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Jacobin glorifica Dolores Ibárruri, carrasca stalinista da Revolução Espanhola

Parte um

Publicado originalmente em 23 de dezembro de 2020

No dia 9 de dezembro, a revista Jacobin, que é ligada aos Socialistas Democráticos dos EUA (DSA), publicou um artigo intitulado “La Pasionaria, heroína da Guerra Civil Espanhola”. A publicação foi suscitada pelos 125 anos do nascimento de Dolores Ibárruri, descrita efusivamente pelo autor, o historiador britânico Paul Preston, como “uma heroína inspiradora da Guerra Civil e uma figura universal da mãe-terra”.

O artigo é um exercício de falsificação histórica, encobrimento político e hagiografia da era Stalin. A ele se seguiu um outro (“La Pasionaria, a maior oradora do antifascismo espanhol, permaneceu desafiadora no exílio”, de Lisa A. Kirschenbaum), que confere uma orientação feminista ao encobrimento de Ibárruri e dos assassinos da GPU de Stalin.

A exposição pró-Stalinista de Preston sobre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), elaborada em vários livros, foi resumida quando, no artigo da Jacobin, se referiu ao levante dos trabalhadores nas “Jornadas de Maio”, que aconteceu em Barcelona entre 3 e 8 de maio de 1937, como “infame”.

A greve geral do proletariado de Barcelona, o setor mais militante da classe trabalhadora espanhola, foi deliberadamente provocada pelo governo Republicano burguês da Frente Popular da Catalunha, por iniciativa do Partido Comunista da Espanha (PCE) e dos agentes da NKVD/GPU de Stalin no país. A greve serviu para justificar o início da repressão assassina em nome da “defesa da república” contra trotskistas e anarquistas apontados supostamente como agentes do líder do golpe militar, general Francisco Franco, e seu aliado alemão Hitler.

Após o esmagamento do levante em Barcelona, em que pelo menos mil trabalhadores combativos foram mortos, houve uma campanha de meses de prisões, tortura e assassinato em larga escala que teve como alvo os trotskistas, os militantes anti-stalinistas do centrista POUM (Partido Operário de Unificação Marxista) e trabalhadores anarco-sindicalistas da Confederação Nacional do Trabalho (CNT). Andrés Nin, ex-líder da Oposição de Esquerda Internacional na Espanha e dirigente do POUM, foi preso e terrivelmente torturado antes de ser assassinado pelos capangas de Stalin. Outra vítima do expurgo em massa foi o secretário de Trotsky, Erwin Wolf, que havia sido enviado à Espanha após as Jornadas de Maio para reunir as forças trotskistas na luta contra a traição stalinista da revolução.

Levante dos trabalhadores durante as Jornadas de Maio em Barcelona (Libcom.org)

Durante os meses de junho e julho de 1937, o governo da Frente Popular em Madri, controlado politicamente pelo Kremlin e pelo PCE, liquidou as milícias operárias dirigidas pelo POUM e os anarquistas que estavam posicionados nos fronts de Aragão e Huesca. A repressão stalinista contra a classe trabalhadora de Barcelona e o expurgo sangrento que se seguiu quebraram a espinha dorsal da revolução e garantiram a vitória das forças fascistas de Franco, que aconteceu com a rendição incondicional do governo republicano, em 31 de março de 1939.

Ramon Mercader, o agente da GPU que matou Leon Trotsky no México em agosto de 1940, iniciou sua carreira como assassino stalinista durante a repressão em massa na Espanha.

Nada disso é sequer mencionado no artigo da Jacobin. Tanto o levante revolucionário dos trabalhadores e camponeses pobres espanhóis quanto a sua repressão sangrenta pelos stalinistas e pelo governo da Frente Popular são ignorados. Também é ignorado o papel proeminente de Ibárruri na liquidação dos trotskistas e de outros militantes anti-stalinistas, que espalhou a difamação suja de que todos os opositores de esquerda ao governo Republicano burguês eram agentes de Franco e Hitler.

Uma apresentação muito mais precisa e honesta dos acontecimentos pode ser encontrada na página da Wikipedia sobre Ibárruri. O texto registra que o principal agente da GPU de Stalin na Espanha, Alexander Orlov, “usou os mesmos métodos de terror, falsidade e mentira que foram empregados [na União Soviética] no Grande Expurgo (1936-38)”.

A publicação ainda cita um discurso de Ibárruri feito após a supressão do levantede maio em Barcelona, em que a “mãe-terra” declarou:

Os trotskistas foram transformados há muito tempo em agentes do fascismo, em agentes da Gestapo alemã. Vimos isso acontecendo durante o golpe de maio na Catalunha; vimos isso claramente nos distúrbios que ocorreram em vários outros lugares ... O trotskismo deve ser arrancado das fileiras proletárias de nosso partido como alguém arranca pela raiz ervas daninhas venenosas. Os trotskistas devem ser arrancados pela raiz e descartados como animais selvagens.

Dolores Ibárruri (Historica Wiki - Fandom)

Ibárri fugiu da Espanha pouco antes de o governo Republicano da Frente Popular se render a Franco. Exilada na União Soviética, ela dirigiu o PCE durante muitos anos. Ela continuou a propagar a linha contrarrevolucionária do Kremlin e a promover o culto a Stalin até a morte do assassino em massa. Ibárri apoiou o pacto Stalin-Hitler em 1939 e a prisão e execução dos membros do PCE pelas mãos da GPU nos anos 1940 e início dos anos 1950. Ela retornou à Espanha em 1977 após a morte de Franco para participar do estabelecimento de uma nova ordem burguesa que anistiava os criminosos fascistas e lhes permitia manter as suas posições de riqueza e poder.

A escolha da Jacobin pelo professor Preston para escrever o seu panegírico a Ibárruri foi uma decisão politicamente consciente. Em abril de 2009, Preston moderou um painel de discussão na Academia Britânica organizado para marcar os 70 anos da vitória de Franco na Espanha. Ele definiu o tom das apresentações dos professores Angel Viňas e Helen Graham ao atacar exposição de George Orwell em Homenagem à Catalunha, que condenou os crimes stalinistas na Espanha com base em suas experiências pessoais como membro de uma milícia do POUM na Catalunha. Preston tentou, então, impedir que um membro do Partido Socialista pela Igualdade (Reino Unido), que estava na plateia, colocasse uma questão. Ao responder à afirmação de que os integrantes da mesa estavam ignorando o fato de que a Guerra Civil Espanhola coincidiu com uma revolução social dos trabalhadores e camponeses pobres, ele chamou a própria noção de uma revolução espanhola como “o mais extremo exagero sensacionalista”.

Não é possível tratar com detalhes os acontecimentos da Guerra Civil Espanhola neste artigo. Entretanto, é um fato histórico que o golpe militar lançado por Franco contra o governo Republicano em 18 de julho de 1936 foi inicialmente repelido na maior parte do país não pelo governo burguês, mas pela classe trabalhadora.

A grande maioria dos militares e dos setores mais decisivos da burguesia se alinharam a Franco. Quando o governo republicano, buscando desesperadamente uma adaptação aos fascistas, recusou-se inicialmente a armar os trabalhadores, os trabalhadores realizaram um levante, primeiro em Barcelona e depois em cidades e vilarejos por todo o país e tomaram as rédeas da situação.

Os trabalhadores criaram comitês para operar os principais setores públicos e instalações de comunicação e formaram milícias para combater os fascistas. O movimento revolucionário que começou em 19 de julho de 1936 estabeleceu uma dualidade de poder, em que o poder real estava nas mãos dos trabalhadores. Eles foram, entretanto, bloqueados de tomar o poder político em suas próprias mãos por seus próprios partidos – o Partido Socialista (PSOE), Partido Comunista (PCE), POUM e CNT, todos eles apoiando a Frente Popular liderada pelos burgueses liberais.

Seguiram-se meses de esforços por parte do governo, incitados pelos stalinistas, para reduzir o domínio dos trabalhadores sobre setores da economia, esmagar os camponeses insurgentes que haviam tomado as propriedades dos grandes latifundiários e dissipar a onda revolucionária. Isso culminou com os eventos das Jornadas de Maio, precipitados pela decisão do governo catalão de retomar o controle da central telefônica em Barcelona.

Andrés Nin (Alchetron.com)

O governo da Frente Popular na Espanha, assim como seu homólogo formado no mesmo ano na França, representou a aplicação da política adotada pelo Comintern em seu Sétimo Congresso em 1935 (do qual Ibárruri participou). Stalin reagiu à chegada de Hitler ao poder em 1933 abandonando as políticas ultraesquerdistas que haviam levado à derrota da classe trabalhadora alemã e fazendo um chamado de conciliação de classes para a formação da “frente popular contra o fascismo e a guerra”.

Numa tentativa de induzir as potências imperialistas ocidentais – Reino Unido, França e EUA – a se aliar à União Soviética contra as potências fascistas – Alemanha e Itália –, Stalin ordenou aos partidos comunistas que apoiassem e, quando possível, se juntassem aos governos capitalistas liderados por setores liberais da burguesia. Produto do programa antimarxista e nacionalista do “socialismo em um só país” proclamado por Stalin em 1924, a política da Frente Popular significou, na prática, a renúncia à revolução socialista. Em nome da defesa da “democracia”, os partidos comunistas defenderam a propriedade burguesa e o Estado capitalista contra o movimento revolucionário de massas.

A classe trabalhadora estava subordinada à burguesia supostamente “progressista”, e suas aspirações revolucionárias estavam sacrificadas pelas necessidades diplomáticas da burocracia dominante da União Soviética. Essa última era impulsionada não pelos interesses da classe trabalhadora, mas pela preservação de seus próprios privilégios, que, baseados nas relações de propriedade estabelecidas pela revolução de 1917, estavam diretamente ameaçados pelo fascismo.

Em suas relações com o imperialismo ocidental, Stalin foi explícito em seu repúdio à revolução mundial. Em uma entrevista de março de 1936 a Roy Howard, do Scripps-Howard Newspapers, se deu o seguinte diálogo:

Howard: Isso, sua declaração, significa que a União Soviética abandonou de alguma forma seus planos e intenções de realizar a revolução mundial?

Stalin: Nós nunca tivemos tais planos e intenções.

Howard: O senhor compreende, sem dúvida, sr. Stalin, que grande parte do mundo há muito tempo tem tido uma impressão diferente.

Stalin: Isso é o produto de um mal-entendido.

Howard: Um mal-entendido trágico?

Stalin: Não, um mal-entendido cômico. Ou, talvez, tragicômico.

A Frente Popular e a contrarrevolução stalinista na Espanha

Sob uma recessão mundial que estava levando a classe trabalhadora à revolução em toda a Europa e internacionalmente, a implementação da Frente Popular exigia que os partidos comunistas se unissem à burguesia para levar a cabo as contrarrevoluções. O principal alvo dessa estratégia foi o movimento trotskista, que de maneira implacável e consciente se opôs à traição stalinista da Revolução de Outubro e lutou pelo programa da revolução socialista mundial que tinha fundamentado a revolução.

O papel contrarrevolucionário do stalinismo no cenário internacional se expressou de forma ainda mais claro na Espanha. Escrevendo em dezembro de 1937 (“As lições da Espanha: O último aviso”), Trotsky explicou:

As razões para a ascensão da Frente Popular espanhola e de seu mecanismo interno são perfeitamente claras. A tarefa dos dirigentes afastados da burguesia de esquerda consistia em controlar a revolução das massas e assim recuperar a confiança dos exploradores que havia sido perdida: “Por que vocês precisam de Franco se nós, os republicanos, podemos fazer o mesmo?” Nesse ponto fundamental, os interesses do [presidente espanhol] Azaña e do [presidente catalão] Companys coincidiam plenamente com os interesses de Stalin, que precisava ganhar a confiança da burguesia francesa e britânica, provando-lhes na prática a sua capacidade de preservar a “ordem” contra a “anarquia”. Stalin precisava da cobertura de Azaña e Companys frente aos trabalhadores: o próprio Stalin, claro, é a favor do socialismo, mas é preciso tomar cuidado para não afastar a burguesia republicana! Azaña e Companys precisavam de Stalin como um carrasco experiente, com a autoridade de um revolucionário. Sem ele, um bando tão insignificante nunca poderia nem teria ousado atacar os trabalhadores...

Os socialistas de esquerda e anarquistas, prisioneiros da Frente Popular, tentaram, é verdade, salvar tudo o que podia ser salvo da democracia. Mas, na medida em que não ousaram mobilizar as massas contra os gendarmes da Frente Popular, seus esforços no final foram reduzidos a queixas e lamentações. Dessa forma, os stalinistas se aliaram com a ala mais direitista, mais abertamente burguesa, do Partido Socialista. Dirigiram seus ataques contra a esquerda – o POUM, os anarquistas, os socialistas de “esquerda” –, em outras palavras, contra os agrupamentos centristas que, ainda que distorcidamente, refletiam a pressão das massas revolucionárias...

Esse fato político, muito significativo em si mesmo, dá uma ideia do grau de degeneração do Comintern nos últimos anos... Depois disso, está definitivamente estabelecido na arena mundial o caráter contrarrevolucionário do stalinismo. (Leon Trotsky, The Spanish Revolution (1931-39), Nova York, 1973, pp. 310-11)

Em outro momento, Trotsky resumiu a essência da Frente Popular como a aliança do liberalismo burguês com a GPU.

Leon Trotsky no final dos anos 1930

Não menos importantes que as considerações geopolíticas no programa stalinista da Frente Popular eram questões internas. O regime stalinista era um regime de crise aguda. A burocracia dirigida por Stalin era um tumor parasitário no corpo de um Estado operário criado pela intervenção revolucionária consciente da classe trabalhadora na vida política, sob a direção de um partido marxista revolucionário, os bolcheviques.

A burocracia dominante vivia com medo constante de uma revolta da classe operária soviética, que tinha uma indignação profunda e irreconciliável por ter seu poder político usurpado por uma elite corrupta e irresponsável. A elite dominante stalinista estava bem ciente de que uma revolução proletária bem-sucedida em qualquer parte do mundo, e sobretudo nos países capitalistas avançados da Europa e da América do Norte, reavivaria a confiança e a consciência revolucionária das massas soviéticas. O programa defendido por Trotsky, de uma revolução política para derrubar o regime burocrático, restaurar a democracia dos trabalhadores e retornar à estratégia da revolução socialista mundial, adquiriria o apoio das massas.

Entre agosto de 1936 e março de 1938, uma série de três julgamentos farsescos, conhecidos como “Processos de Moscou”, foram encenados por Stalin. Praticamente todos os dirigentes da Revolução de Outubro e do Partido Bolchevique de Lenin confessaram, sob tortura, conspirar com a Alemanha nazista e outros inimigos estrangeiros e nacionais para derrubar a União Soviética e assassinar Stalin. Esses monstruosos julgamentos farsescos foram a contrapartida interna das políticas contrarrevolucionárias levadas a cabo sob a bandeira da Frente Popular na arena internacional.

O principal réu foi Leon Trotsky, que vivia no exílio, primeiro na Noruega e depois no México, e foi condenado e sentenciado à morte à revelia.

Os julgamentos foram a face pública do “Grande Expurgo” – uma onda que se prolongou por anos de prisões em massa, assassinatos e deportações para campos de trabalho, por meio dos quais centenas de milhares de membros genuinamente socialistas do Partido Comunista, intelectuais, cientistas e artistas foram exterminados, no que o Comitê Internacional da Quarta Internacional chamou de “genocídio político”.

Frente única vs. Frente Popular

Os stalinistas apresentaram falsamente sua política de Frente Popular como uma extensão da tática de “frente única” introduzida por Lenin e Trotsky no Terceiro (1921) e Quarto (1922) Congressos da Internacional Comunista. Na realidade, a Frente Popular era uma política de colaboração de classe com um setor da burguesia e, portanto, diametralmente oposta à frente única, que era um meio para o partido marxista revolucionário tomar a iniciativa de unir todos os setores da classe trabalhadora na luta contra toda a burguesia.

A base da tática de frente única era a independência política da classe operária em relação a todas as frações da classe capitalista e a unidade internacional da classe operária. A diferença entre a frente única elaborada pelo Comintern sob Lênin e Trotsky e defendida por Trotsky na luta contra o fascismo na Alemanha, de um lado, e a Frente Popular de Stalin, do outro, era a diferença entre revolução e contrarrevolução.

Desde os anos 1930 até hoje, as tendências oportunistas e revisionistas têm procurado mascarar a adaptação política às organizações stalinistas e socialdemocratas, às burocracias sindicais pró-capitalistas e aos liberais burgueses como a aplicação da política de “frente única”. Esse artifício terminológico é usado para confundir e estrangular as lutas dos trabalhadores.

Lênin e Trotsky lutaram para que os partidos comunistas adotassem a tática de frente única num momento em que, após a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, a onda inicial de revoluções proletárias na Europa havia sido derrotada, devido principalmente à imaturidade e aos erros das direções revolucionárias. Diante de uma reestabilização muito frágil e temporária do capitalismo europeu, eles enfatizaram a necessidade de que os partidos da Terceira Internacional conquistassem primeiro a lealdade das massas antes de lançar a luta pelo poder do Estado.

Para tanto, aconselharam aos partidos da França e da Alemanha, particularmente, que apelassem aos partidos socialdemocratas e aos sindicatos reformistas e anarco-sindicalistas para se unirem aos comunistas e realizarem ações conjuntas pontuais em defesa das organizações operárias contra os ataques dos fascistas e do Estado capitalista e nas lutas por demandas sociais fundamentais. Os pressupostos para essas frentes únicas eram a total independência organizativa dos partidos comunistas e a total liberdade de crítica às outras organizações operárias na frente única.

A frente única foi definida como um acordo de ação conjunta entre as organizações de massa da classe trabalhadora. Não haveria mistura de bandeiras e não haveria diluição do programa revolucionário do marxismo. A palavra de ordem era “Marchar separadamente e atacar juntos”.

Em suas teses “Sobre a Frente Única”, de março de 1922, Trotsky escreveu sobre a tática da frente única na França:

Um dos métodos mais seguros para combater, dentro da classe trabalhadora, os humores e ideias do “Bloco de Esquerda”, ou seja, um bloco entre trabalhadores e um determinado setor da burguesia contra um outro setor da burguesia, é a propagação persistente e resoluta da ideia de um bloco entre todos os setores da classe trabalhadora contra toda a burguesia. [Ênfase no original]. (Leon Trotsky, Marxists Internet Archive)

Longe de oferecer qualquer tipo de anistia política, o partido revolucionário demonstraria através da tática na ação e diante dos olhos de toda a classe trabalhadora sua disposição para dirigir e tomar medidas decisivas em defesa da classe e para expor as vacilações e capitulações das direções reformistas, no processo de conquista de setores cruciais dos trabalhadores socialdemocratas para o Partido Comunista.

Ernst Thälmann, dirigente do Partido Comunista da Alemanha (Wikipedia)

Já em setembro de 1930, Trotsky agitava para que o Partido Comunista da Alemanha, dominado por stalinistas obedientes, abandonasse sua política ultraesquerdista do “Terceiro Período”, que rejeitava qualquer colaboração com os socialdemocratas ao mesmo tempo que os considerava “socialfascistas”, e para que adotasse a tática da frente única para unir a classe trabalhadora na luta contra a crescente ameaça do nazismo. Trotsky e seus partidários na Alemanha defenderam essa política após as eleições nacionais, realizadas sob recessão profunda e desemprego crescente e que registraram um aumento de quase 16 pontos percentuais no voto nazista.

Stalin e a direção do PC alemão rejeitaram essa política, escondendo por trás da retórica ultraesquerdista uma aceitação fatalista da inevitabilidade de uma vitória fascista, combinada com uma adaptação, de forma sectária, à liderança socialdemocrata. O resultado, contra o qual Trotsky havia alertado repetidamente, foi uma derrota catastrófica para a classe trabalhadora alemã e internacional.

Continua.

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