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Variante Delta amplifica potencial catastrófico da COVID-19 no Brasil

Nos últimos dias, as secretarias de saúde de São Paulo e do Rio de Janeiro anunciaram já existir transmissão comunitária da variante Delta do coronavírus em suas cidades, as duas maiores metrópoles do Brasil.

Comércio de rua em Brasília, julho, 2021. [Credit: Marcelo Camargo/Agência Brasil]

Na quarta-feira, a Prefeitura de São Paulo reportou que a investigação de um caso da variante Delta, confirmado originalmente em 21 de junho, revelou que o paciente não teve nenhum contato com pessoas vindas do exterior e que outros três membros da sua família foram infectados. No dia seguinte, a Prefeitura do Rio de Janeiro notificou seus dois primeiros casos de transmissão local da variante, ao lado de outras 10 pessoas infectadas que tiveram contato com os pacientes.

O Ministério da Saúde, apesar de ainda não ter assumido a transmissão comunitária no Brasil, reconhece 27 casos confirmados da variante de origem indiana, que já levaram a cinco mortes.

O presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom fez uma declaração alarmante na semana passada, afirmando que “o mundo se encontra num ponto perigoso da pandemia”. A transmissão da variante Delta pelo mundo, que já atingiu ao menos 104 países, está sendo acompanhada pelo crescimento explosivo das curvas epidemiológicas em dezenas de países.

Essa situação, com potencial devastador incalculável, está sendo impulsionada pelas ações criminosas dos governos capitalistas ao redor do planeta, que estão promovendo a suspensão irresponsável das medidas de controle da transmissão do vírus sob o mantra da “volta à normalidade”.

No Brasil, o quadro não é diferente. Na sexta-feira o país superou 540 mil mortes por COVID-19 e permanece registrando o maior número mortes diárias do mundo. Em média, 1.244 pessoas morrem de COVID-19 diariamente no Brasil, enquanto outras 42.819 são infectadas, segundo dados do Worldometer.

A instituição brasileira de saúde pública Fiocruz alertou num boletim extraordinário de 14 de julho que, apesar de observar-se “a manutenção, pela terceira semana consecutiva, de uma tendência de queda de indicadores de incidência e mortalidade por COVID-19” no Brasil, “a alta taxa de positividade dos testes demonstra uma intensa circulação do vírus”.

A redução dos índices nas últimas semanas, segundo os pesquisadores do Observatório Fiocruz COVID-19, é resultado de um avanço da vacinação da população brasileira, que se encontra ainda num estágio inicial, com apenas 15% completamente imunizados.

Os pesquisadores, entretanto, ressaltam que “as vacinas disponíveis apresentam limites em relação ao bloqueio da transmissão do vírus, que continua circulando com intensidade” e sustentam que a “preocupação com a possibilidade de surgimento de variantes com potencial de reduzir a efetividade das vacinas disponíveis é pertinente e não pode ser perdida de vista”.

Eles terminam fazendo um apelo à população para a manutenção das medidas de distanciamento físico social, utilização de máscaras e atendimento às campanhas de vacinação.

Essas recomendações chocam-se frontalmente com as políticas sendo impulsionadas por todos os partidos da classe dominante brasileira, que estão forçando o fim de todas as medidas de isolamento e estimulando entre a população o sentimento de que os riscos da pandemia acabaram.

Os efeitos nefastos dessa política foram revelados numa pesquisa Datafolha publicada também em 14 de julho apontando que, pela primeira vez, “a percepção de que a pandemia está sob controle no país é majoritária”. Segundo o levantamento, 53% da população brasileira avalia que a pandemia está parcialmente controlada, 5% que está totalmente controlada e 41% que a pandemia está fora de controle. Em março, 79% afirmavam que a pandemia estava fora de controle.

Nem a Folha de São Paulo, que conduziu a pesquisa, nem os demais veículos da mídia corporativa questionam o que permitiu o avanço dessa percepção entre os brasileiros e, menos ainda, propõem-se a combater tais ideias expondo suas bases equivocadas e os riscos extremos que carregam.

Em editorial desta sexta-feira, o Estado de São Paulo celebrou a queda dos números da pandemia no Brasil e referiu-se à pesquisa Datafolha reforçando que o “alívio e a percepção de controle são justificados”. Suas únicas recomendações – que traduzem a posição dominante da classe capitalista – são que os governos sigam vacinando a população “no menor tempo possível” e que “os cuidados pessoais ainda se fazem rigorosamente necessários”.

Ao mesmo tempo que buscam isolar a crescente revolta da população brasileira contra a resposta capitalista homicida à COVID-19 na figura do presidente “negacionista” Jair Bolsonaro, esses veículos da burguesia trabalham para pintar as ações igualmente criminosas dos governantes locais como políticas “responsáveis”.

O governador milionário de São Paulo, João Doria, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), está promovendo um ataque generalizado às medidas de restrição ao coronavírus, totalmente indiferente a seus efeitos catastróficos. Com uma terrível média de 373 mortes diárias, São Paulo é o estado mais afetado em termos absolutos pela COVID-19, e já soma 133.901 óbitos pela doença.

Com o total apoio da mídia, o governo de São Paulo promoveu a reabertura das escolas de todo o estado em fevereiro deste ano. Essa medida já resultou em ao menos 1.194 surtos em unidades escolares e na morte de 100 professores e 3 alunos somente rede pública estadual, segundo dados da APEOESP de 30 junho.

Na semana passada, Doria anunciou um pacote de flexibilização que inclui, além da ampliação da capacidade e horário de funcionamento de todos os setores econômicos e a realização de 30 eventos-testes com grande público, a retomada das aulas presenciais em universidades e o fim do limite de alunos nas salas de aula escolares. É também abolida a exigência de 1,5 metros de distância entre os alunos, que passa a ser de somente 1 metro.

Na última quarta-feira, ele deu continuidade a sua série de ataques ao distanciamento social, exigindo o retorno de todos os funcionários públicos que estavam em home-office por integrarem os chamados grupos de risco. Justificando suas ações inconsequentes, ele declarou: 'A vida está retornando à normalidade e nós estamos confiantes'.

Apenas um dia depois, Doria anunciou ter se contaminado pela segunda vez com COVID-19, mesmo após completamente imunizado. Sua doença, um produto da sua própria política criminosa em nome dos interesses capitalistas, demole por completo sua alegação cínica de que “a vida volta ao normal”.

As políticas de Doria estão sendo replicadas pelos governantes de todos os estados. A capital do Rio de Janeiro também adotou a redução da distância nas salas de aula para apenas 1 metro, visando um breve retorno total dos alunos. Na semana passada, os professores de Minas Gerais votaram massivamente por uma greve de uma semana em protesto contra a reabertura das escolas estaduais pelo governador Romeu Zema, do Partido Novo.

Na Bahia, os professores estão entrando em choque com o governador do Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Costa, que anunciou o retorno das aulas presenciais ainda neste julho. Confrontado pela decisão dos educadores de não retornarem às escolas, Costa os ameaçou publicamente, afirmando: 'Se você faltar [o trabalho] dias seguidos e não justificar, você não receberá o salário e eventualmente poderá ser demitido”.

O desenvolvimento descontrolado da pandemia da COVID-19 está expondo a total incapacidade do capitalismo e seus representantes políticos de responder aos problemas mais básicos da humanidade.

A tarefa de pôr fim à pandemia através de uma resposta baseada nas determinações da ciência e nos interesses de preservação das vidas depende da mobilização da classe trabalhadora como uma força política independente.

A intensificação da luta de classes internacionalmente, que ganha forma no Brasil nas crescentes greves e manifestações massivas contra a política homicida da elite dominante, está abrindo o caminho para essa perspectiva revolucionária.

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