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Bolsonaro ataca socialismo e lockdowns contra COVID-19 na ONU

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro discursa na 76ª Sessão da Assembléia Geral da ONU, terça-feira, 21 de setembro de 2021, na sede das Nações Unidas em Nova York. (AP Photo/Evan Vucci)

A abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU começou na terça-feira, 21 de setembro, com um discurso do presidente fascistoide brasileiro Jair Bolsonaro. Exatamente duas semanas antes, Bolsonaro havia conduzido manifestações de extrema-direita que ameaçaram instaurar uma ditadura no maior país da América Latina.

Em sua fala, Bolsonaro reivindicou abertamente sua ameaça de golpe do 7 de setembro. Ele também defendeu suas políticas de Estado criminosas, particularmente a estratégia homicida de “imunidade de rebanho” em resposta à pandemia de COVID-19 que já provocou quase 600 mil mortes no Brasil. Bolsonaro encarnou essa política criminosa ao participar do evento como o único orador que se recusou a vacinar-se contra a COVID-19.

O presidente brasileiro abriu seu discurso apresentando claramente a perspectiva contrarrevolucionária que norteia sua política. Ele proclamou: “O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo”.

Ele prosseguiu afirmando que a época em que o Brasil “[financiava] obras em países comunistas” havia terminado e que hoje o país possui “o maior programa de parceria de investimentos com a iniciativa privada de sua história”.

Baseado em grosseiras distorções de dados, ele afirmou o compromisso ambiental de seu governo inclusive com a preservação da floresta amazônica, cuja devastação ele afirmou ter sido radicalmente reduzida. Enquanto Bolsonaro declarou “uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto” na Amazônia, o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) brasileiro diz que nos primeiros anos do seu mandato houve um aumento de 56% da média de desmatamento da floresta.

Falando sobre a pandemia de COVID-19, Bolsonaro atacou virulentamente as determinações da ciência e o interesse de preservação das vidas humanas. Ele afirmou que “as medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo”.

O presidente também se declarou contrário “a qualquer obrigação relacionada a vacina”, e advogou a utilização de medicamentos sem comprovação científica para o combate à COVID-19, afirmando ser “um que fez o ‘tratamento inicial’, sempre respeitando a autonomia médica”.

Ao mesmo tempo que ele dava essa declaração repulsiva, era revelado no Brasil um escândalo envolvendo a empresa médica Prevent Senior, que conduziu um experimento bárbaro com pacientes idosos de COVID-19 que receberam hidroxicloroquina e azitromicina sem seu consentimento provocando centenas de mortes. Esses resultados, por sua vez, foram fraudados para sustentar um “estudo” que atestaria a eficácia de tais drogas contra a COVID-19. Bolsonaro esteve profundamente envolvido com os realizadores desse experimento criminoso e divulgou sistematicamente seus resultados fraudulentos.

A mídia corporativa brasileira reportou o discurso e a participação de Bolsonaro no evento da ONU como uma “vergonha” nacional. Ele “não tem lugar no mundo”, declarou um artigo de Jamil Chade do Uol. A imprensa também afirmou que o discurso de Bolsonaro foi integralmente voltado à sua base de apoiadores de extrema-direita doméstica e que ele se recusou a “falar para o mundo”.

Essas avaliações tentam destacar Bolsonaro como uma aberração, uma mancha negra invadindo o mar de rosas das relações políticas internacionais fraternas personificadas pelas Nações Unidas. A profunda hipocrisia dos líderes imperialistas, como o presidente americano Joe Biden, que proclamou o fim de um “período de guerras sem-fim” e a abertura de uma “nova era de diplomacia sem-fim”, é tomada como a verdade mais pura.

A Assembleia Geral da ONU de 2021, no entanto, foi marcada pelo anúncio, apenas alguns dias antes, da formação da aliança militar AUKUS entre os Estados Unidos, Reino Unido e Austrália. Esse acordo militar exacerbou as ameaças de uma guerra iminente contra a China e expôs o aprofundamento dos conflitos entre as próprias potências imperialistas – como mostrou inequivocamente a crise diplomática sem precedentes entre os países da AUKUS e a França.

Enquanto profere discursos de “paz”, “diplomacia” e defende políticas “humanitárias”, a burguesia mundial caminha de olhos vendados rumo à conflagração de guerras catastróficas, ao mesmo tempo que domesticamente avança políticas de assassinato social em resposta à COVID-19 e de repressão generalizada contra a crescente oposição social.

Independentemente de se seus pares torcerem o nariz para ele, o fascistoide Bolsonaro é uma expressão legítima da degradação política da burguesia internacional impulsionada pela crise profunda do capitalismo mundial.

A negligência criminosa de Bolsonaro em relação à pandemia COVID-19, chamada no Brasil de “negacionismo”, não é tampouco uma particularidade sua. O primeiro-ministro britânico Boris Johnson – que nesta semana foi destacado na mídia brasileira por alegadamente ter alertado Bolsonaro que “vacinas salvam vidas” – ficará marcado na história por sua nefasta frase: “chega dessas porras de lockdowns – deixem os corpos se empilharem aos milhares”.

Apesar de Bolsonaro ter se focado em promover suas conspirações políticas domésticas, seu discurso mirou muito além de sua base de apoiadores fascistoides no Brasil. Ao atacar o socialismo, os lockdowns e a obrigatoriedade das vacinas, ao defender uma política chauvinista baseada em “Deus e na família”, ele falou em nome das forças fascistoides que estão vindo à tona e sendo integradas a governos capitalistas de todo o mundo.

Concomitante à participação do presidente brasileiro no evento da ONU, seu filho e braço direito político, Eduardo Bolsonaro, participou do programa reacionário de Tucker Carlson na Fox News. Com aprovação entusiástica de Carlson, Eduardo atacou o prefeito democrata de Nova York, Bill de Blasio, declarando que ele é um “marxista que segue muito o que diz Antonio Gramsci”. De Blasio havia recomendado que seu pai se vacinasse antes de entrar nos EUA, ou que não viesse.

Eduardo Bolsonaro estava se dirigindo diretamente à base de apoiadores de Donald Trump que, assim como o presidente brasileiro, declarou “ditatoriais” as medidas mínimas de distanciamento social promovida por governadores e prefeitos e instigou uma insurreição fascistoide contra elas.

Ainda durante a viagem a Nova York, membros da comitiva de Bolsonaro, incluindo seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o próprio Eduardo Bolsonaro, testaram positivo para COVID-19. Dando sequência a suas provocações, Eduardo insinuou estar fazendo uso das drogas sem comprovação científica e, numa postagem no Twitter nesta sexta-feira, levantou dúvidas sobre a eficácia das vacinas. Ele escreveu: “Sabemos que as vacinas foram feitas mais rápidas do que o padrão... Isso significa que a vacina é inútil? Não creio. Mas é mais um argumento conta o passaporte sanitário”.

O crescimento dessas forças fascistizantes no Brasil e no mundo, assim como o aprofundamento da desigualdade social e o desenvolvimento catastrófico da pandemia da COVID-19, só podem ser combatidos através da mobilização da classe trabalhadora em nível internacional.

Nessa luta, a classe trabalhadora defenderá a estratégia científica de erradicação mundial da pandemia de COVID-19. Ela deve se opor tanto à política abertamente assassina de “imunidade de rebanho”, que ataca qualquer medida científica de controle do coronavírus, como aquela de “mitigação”, que admite a vacinação e obrigatoriedade de máscaras ao mesmo tempo que descarta medidas de distanciamento social com impacto nos lucros capitalistas e qualquer colaboração internacional.

Contra o sistema capitalista apodrecido e sua guinada à guerra e a ditadura, a classe trabalhadora internacional deve erguer a bandeira da revolução socialista internacionalista.

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