Português
Perspectivas

Webinário de 24 de outubro: “Como acabar com a pandemia”

Cientistas defendem eliminação mundial da COVID-19

Publicado originalmente em 25 de outubro de 2021

No webinário em 24 de outubro, “Como acabar com a pandemia”, patrocinado pelo World Socialist Web Site e pela Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB), um painel de destacados cientistas de todo o mundo fizeram uma poderosa defesa da eliminação mundial do vírus que causa COVID-19.

Contando com um prévio webinário organizado pelo WSWS há dois meses, o evento de domingo foi o único esforço dedicando tempo para que os cientistas e especialistas em saúde pública explicassem ao público a natureza da pandemia e o que deve ser feito. Na medida em que existe alguma discussão sobre a ciência da COVID-19, ela se limita principalmente às revistas científicas, com uma circulação muito pequena, não a eventos públicos diretamente acessíveis aos trabalhadores.

O webinário também foi único por seu escopo internacional. Os oito cientistas e médicos participaram de cinco países: Nova Zelândia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Paquistão. Durante o evento e nas primeiras 12 horas após a sua transmissão, milhares de pessoas de mais de 100 países de todo o mundo assistiram o evento. Entre os países com o maior número de espectadores estavam os EUA, Canadá, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália, Alemanha, Sri Lanka, Irlanda, França, Índia, Espanha, Malásia e Brasil.

O evento foi moderado pelo membro do Conselho Editorial Internacional do WSWS, David North, e pelo escritor do WSWS e médico, Dr. Benjamin Mateus. Na abertura do webinário, North chamou a atenção para a colossal quantidade de vidas perdidas nos últimos dois anos, com o número oficial de óbitos globais se aproximando agora de cinco milhões de pessoas. Citando o The Economist, North observou que o número real de mortes é muito maior, entre 10 e 20 milhões de pessoas. Ele disse: “O mundo já pagou um terrível preço pela recusa deliberada dos governos em ouvir os cientistas”.

Embora programado originalmente para duas horas, o webinário durou três horas e meia. Muitos dos cientistas vieram preparados com slides detalhados apresentando informações factuais sobre o impacto das diferentes medidas para conter o vírus, as suas consequências para a saúde e como a doença é transmitida.

Alguns fatos destacados durante as apresentações são vitais e precisam ser entendidos pelo público.

A Dra. Malgorzata Gasperowicz, bióloga do desenvolvimento e pesquisadora da Universidade de Calgary no Canadá e cofundadora da iniciativa Zero COVID Canada, fez uma apresentação “Em defesa da Eliminação do SARS2”. Ela documentou a enorme disparidade de casos e óbitos entre as províncias do Canadá que seguiram a estratégia de eliminação e aquelas que seguiram a estratégia de “mitigação” ou contenção. Ela também apresentou modelos matemáticos, mostrando que as vacinas por si próprias não são suficientes para deter a propagação do vírus.

A Dra. Gasperowicz disse que os seus modelos mostram que, em países com uma alta taxa de vacinação, medidas agressivas ‒ incluindo a interrupção da produção não essencial e a testagem, o rastreamento e o isolamento agressivos ‒ poderiam eliminar o vírus dentro de dois a três meses. Embora houvesse alguma discussão sobre o tempo que seria necessário, todos os cientistas concordaram que tal estratégia era viável e necessária.

A Dra. Gasperowicz disse: “Algumas pessoas afirmam que é tarde demais, que não é possível eliminar agora porque temos [a variante Delta], porque o vírus está em toda parte”, mas essas afirmações são falsas. “A matemática funciona da mesma forma. Se conseguirmos dobrar a curva, se conseguirmos levar o valor R [taxa de transmissão] a um nível baixo, podemos eliminar”.

O Dr. Michael Baker, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade de Otago em Wellington, Nova Zelândia, que serviu no grupo consultivo técnico para a COVID-19 do Ministério da Saúde da Nova Zelândia, fez uma apresentação, “Eliminação progressiva da COVID-19: É viável e desejável”?

Baker concluiu que estratégias de eliminação “definitivamente funcionam”. Ele observou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem seguido uma estratégia de eliminação de muitas doenças, incluindo a poliomielite. A China, Nova Zelândia, Taiwan e Austrália, onde estratégias de eliminação foram seguidas durante grande parte ou toda a pandemia, conseguiram limitar as mortes a entre três e cinco indivíduos por milhão. Isso se compara aos quase 2 mil óbitos por milhão nos Estados Unidos, o que levou a uma queda de um ano e meio na expectativa de vida ao nascer.

Questionado por David North se é provável que a recente mudança na política do governo da Nova Zelândia, sob imensa pressão econômica e política, ao “transitar” de sua abordagem anterior, leve a um aumento acentuado de casos e mortes, Baker declarou: “Sim, muito”.

O Dr. Jose-Luis Jimenez, professor de química na Universidade de Colorado, Boulder, e um especialista em física de aerossóis, fez uma apresentação sobre “Os modos de transmissão do SARS-CoV-2”. O Dr. Jimenez apresentou slides mostrando como o SARS-CoV-2 ‒ o vírus que causa a COVID-19 ‒ é transportado em partículas minúsculas de aerossol de uma pessoa para outra. Elas são emitidas sempre que as pessoas falam ou mesmo quando respiram. Isso explica o caráter extremamente infeccioso da doença, particularmente em locais fechados mal ventilados, tais como escolas.

Jimenez criticou duramente a OMS por se recusar a reconhecer a aerossolização do vírus por mais de um ano após o início da pandemia, chamando-a de “um dos maiores erros em toda a história da saúde pública”. Ele disse que uma das razões da resistência em reconhecê-la é ser menos “conveniente” para os governos. A aerossolização transfere a responsabilidade dos indivíduos, de se protegerem da menos provável infecção por gotículas, para os governos e as empresas que não implementam medidas de segurança adequadas para toda a sociedade.

A Dra. Deepti Gurdasani, pesquisadora de saúde pública da Universidade Queen Mary em Londres, fez uma apresentação sobre a COVID longa, que ela chamou de “a pandemia oculta após a pandemia”. A sua apresentação revisou os dados alarmantes, mostrando que os sintomas da COVID longa, que duram entre 12 e 15 semanas ou mais, podem afetar entre 2% a 14% de todas as pessoas que contraem a COVID-19. Ela explicou que os indivíduos infectados correm maior risco de doença cardiovascular, doença renal, doença pulmonar e degeneração cerebral em regiões associadas à sensação, processamento emocional e memória.

Os governos, disse ela, não querem falar sobre a COVID longa porque “se aceitarem que é real e problemática, teriam que fazer muito mais para evitar a transmissão”.

Respondendo a uma pergunta de Lisa Diaz, uma mãe britânica que tem desempenhado um papel de liderança na mobilização da oposição à reabertura insegura das escolas, a Dra. Gurdasani chamou a política do governo britânico de “francamente criminosa”. Ela disse que uma em cada 12 crianças da escola secundária e uma em cada 30 crianças da escola primária foram infectadas pela COVID-19 no Reino Unido. “Em todos os aspectos, o nosso governo falhou completamente em proteger as crianças, e o impacto disso não tem sido apenas a infecção em massa de crianças, mas taxas muito altas de COVID longa”.

O Dr. Zayar, médico paquistanês que trabalhou com a OMS entre 2009 e 2014 na iniciativa de erradicação da poliomielite, analisou o impacto catastrófico da pandemia em todo o sul da Ásia. Zayar disse: “Há milhões de outras mortes no subcontinente que não são registradas”, observando que os governos da Índia e do Paquistão procuraram encobrir o seu fracasso em proteger a população. “A sua primeira prioridade... era abrir a economia, [mesmo no auge] da pandemia”.

O Dr. Eric Feigl-Ding, epidemiologista, economista da saúde e membro sênior da Federação de Cientistas Americanos, apresentou um poderoso caso contra o controle privado sobre a produção e distribuição de vacinas e a política mais ampla dos governos em resposta à pandemia. “A espinha dorsal moral da saúde pública foi completamente quebrada pela política”, disse ele.

Os dias de petições e editoriais de opinião nos jornais acabaram, disse Feigl-Ding, porque “sabemos claramente que as forças políticas que querem reabrir, deixar que se espalhe, infecção em massa, ‘conviver com o vírus’ - claramente elas não se importam com todo o raciocínio científico”.

Em resposta a uma pergunta de David North sobre como ele enxergava a pandemia nos próximos três a seis meses sem uma mudança dramática de política, Fiegl-Ding respondeu: “Em uma escala mundial, ainda estaremos contando mortes dentro de seis meses. Vamos ter um inverno muito ruim no Hemisfério Norte”. Outros cientistas do painel concordaram com essa previsão.

Dr. Howard Ehrman ‒ médico de medicina familiar aposentado, professor assistente na faculdade de medicina e escola de saúde pública de Chicago na Universidade de Illinois até 2020, e ativista social há muitos anos ‒ fez uma forte denúncia da reabertura das escolas promovida pela administração Biden. Ele observou que houve um milhão de novos casos entre crianças nas últimas cinco semanas, e 588 crianças morreram devido à pandemia desde o seu início, em conjunto com milhares de professores e funcionários.

O Dr. Ehrman criticou aqueles na mídia “que fizeram de tudo sob Trump e Biden para que pais, professores, funcionários se sentissem culpados, os ameaçassem, e agora começam a puni-los por manterem seus filhos em casa”.

Além dos cientistas, vários trabalhadores do painel discutiram o impacto que a pandemia já teve sobre os trabalhadores, os pais e a população como um todo. Lisa Diaz falou sobre as condições catastróficas produzidas pela reabertura das escolas no Reino Unido, que ela chamou de “política de terra arrasada”.

David O’Sullivan, um motorista de ônibus de Londres demitido por defender o direito de seus colegas a um local de trabalho seguro, falou sobre o impacto da política de “imunidade de rebanho” da administração Johnson sobre os motoristas de ônibus, descrevendo-a como “uma guerra contra a classe trabalhadora e uma guerra contra a ciência. As duas andam juntas”.

Donna, professora nos EUA e membro do Comitê de Base de Educadores do Tennessee, disse que ela e outros professores “se sentiram abandonados por nossos líderes, nossos administradores e, o pior de tudo, nossos sindicatos”. Trabalhadores e cientistas, disse ela, “devem unir forças contra os interesses de lucro dos nossos governos e líderes empresariais se quisermos acabar com a pandemia”.

Ao concluir a reunião, North explicou: “A defesa da eliminação, um caminho que leva em última instância à erradicação do vírus, é tão esmagadora do ponto de vista científico, que é difícil de entender que poderia receber contra-argumentos”.

Porém, há interesses sociais definidos que determinaram a política desde o início e estão trabalhando ativamente contra a ciência ‒ os interesses da classe dominante em busca do lucro. North disse: “Não podemos contornar o fato de que vivemos em uma sociedade que saúda a extravagância sem sentido, ridícula, inútil de uma elite dominante que não consegue pensar em nenhuma maneira melhor de usar o seu dinheiro do que ir para o espaço”.

É por essa razão que as informações científicas apresentadas no webinário foram completamente excluídas da mídia capitalista. Desde o início da pandemia, fora do fórum do WSWS, não houve nenhum esforço sistemático para educar a população sobre a ciência da COVID longa, a aerossolização, o papel das escolas na transmissão do vírus, ou qualquer outra das críticas informações que os trabalhadores devem conhecer.

Há também uma força social cujos interesses se cruzam com a verdade científica: a classe trabalhadora, a grande massa da população.

North observou que, desde o último webinário realizado em agosto, houve um crescimento significativo da luta de classes nos EUA e em todo o mundo. “A iniciativa tomada por Lisa Diaz, os esforços feitos pelos trabalhadores em comitês de base para assumir o controle das suas próprias lutas e também assumir o controle da luta contra as condições inseguras em suas fábricas e escolas, são a indicação de uma profunda mudança”.

Parafraseando a famosa declaração de Marx em suas teses sobre Feuerbach, North concluiu: “Os cientistas explicaram a pandemia. Eles mostraram como ela é transmitida, e como essa transmissão pode ser interrompida, mas o desafio da classe trabalhadora é acabar com ela”.

A riqueza de informações apresentadas no webinário de 24 de outubro devem ser estudadas por todos os trabalhadores em todos os países. As informações científicas e as perspectivas apresentadas nesse webinário devem ser trazidas à classe trabalhadora. A luta contra a pandemia e a política de morte em larga escala da classe dominante deve ser ligada às crescentes lutas dos trabalhadores em todo o mundo contra a exploração, a desigualdade, a ditadura, a guerra e o sistema capitalista.

Loading