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Perspectivas

COVID-19 deve ser erradicada para impedir novas variantes perigosas

Publicado originalmente em 27 de novembro de 2021

No dia 26, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou sobre uma nova variante da COVID-19, que chamou de Ômicron, que se espalha mais rapidamente do que outras e é potencialmente mais mortal e resistente às vacinas.

Essa imagem de microscopia eletrônica disponibilizada pelo US National Institutes of Health em fevereiro de 2020 mostra o Novo Coronavírus SARS-CoV-2 (Crédito: NIAID-RML via AP) [AP Photo/NIAID-RML]

O surgimento dessa nova variante da COVID-19 expõe devastadoramente a política implementada pelos governos capitalistas, liderados pelos Estados Unidos e Europa, que se opuseram ao lockdowns e outras críticas medidas de saúde pública necessárias para deter a propagação da doença.

O World Socialist Web Site e cientistas líderes alertaram repetidas vezes que, sem a eliminação e erradicação da COVID-19, era apenas uma questão de tempo até a evolução de variantes novas e mais perigosas.

Em 20 de agosto deste ano, o WSWSescreveu: “Enquanto o vírus se espalhar, ele continuará se transformando em novas variantes mais infecciosas, letais e resistentes a vacinas que põem em ameaça toda a humanidade. A menos que seja erradicada em escala mundial, as brasas da COVID-19 continuarão a arder e criarão as condições para que o vírus se reacenda de novo”.

Esses alertas foram confirmados, com conseqüências desastrosas.

A variante Ômicron, que sofreu mais mutações do que todas detectadas até agora, espalhou-se amplamente pela África do Sul, substituindo outras linhagens com velocidade sem precedentes.

Um gráfico das mutações da COVID-19 produzido pelo biólogo computacional, Trevor Bedford, com a variante Ômicron representada em vermelho.

Na sexta-feira, o centro de controle e prevenção de doenças na Europa advertiu: “Em uma situação em que a variante Delta está ressurgindo” em toda a Europa, “o impacto da introdução e possível propagação da #OmicronVariant poderia ser MUITO ALTO”, e concluiu: “O nível geral de risco para a UE/EEA [União Europeia/Espaço Econômico Europeu]... é avaliado como ALTO a MUITO ALTO”.

A OMS declarou que a nova variante representa um “aumento do risco de reinfecção” e que está aumentando em “quase todas as províncias da África do Sul”. A variante foi “detectada em taxas mais rápidas do que os surtos de infecção anteriores, sugerindo que essa variante pode ter uma vantagem de crescimento”.

O Dr. Yaneer Bar-Yam, um físico de sistemas complexos que estuda pandemias há quase duas décadas, escreveu: “Nova variante = nova pandemia”, e acrescentou: “Infecções que conhecemos hoje aconteceram há alguns dias ou até duas semanas atrás. Infecções que aconteceram hoje só serão conhecidas dentro de poucos dias ou até daqui a duas semanas”. Ele calculou que a nova variante é seis vezes mais infecciosa do que a linhagem original e oito vezes mais mortal.

Dada a rapidez com que a doença vem se espalhando, alertaram os cientistas, não há dúvida de que ela está presente em países de todo o mundo. “Há uma provável transmissão comunitária na Bélgica”, disse a virologista Angela Rasmussen, “sugerindo que também há uma provável transmissão comunitária em outros lugares”.

O surgimento da variante Ômicron ocorre no contexto de um catastrófico surto de inverno da variante Delta da COVID-19. Em todo o mundo, o número de casos aumentou 40% em apenas um mês. Na Alemanha, a média móvel de sete dias de casos atingiu 55 mil, mais do que o dobro do nível mais alto já registrado.

Nos EUA, mais de mil pessoas estão morrendo todos os dias, e Michigan, Minnesota e outros estados estão registrando os níveis mais altos de novos casos registrados, apesar da disponibilidade das vacinas.

No dia 22, Biden anunciou que não tomaria medidas em resposta à nova variante, a não ser restrições de viagem dos países do sul da África. Ele declarou: “Continuaremos sendo guiados pelo que a ciência e minha equipe médica aconselharem”.

Isso é uma mentira. Biden não seguiu os conselhos dos cientistas ‒ eles alertaram que suas políticas levariam a um ressurgimento da pandemia ‒ mas os interesses de Wall Street.

A política doméstica implementada por Biden, assim como a de Trump antes dele, foi a reabertura das escolas, a fonte mais significativa de surtos de acordo com as estatísticas da região mais atingida pela COVID-19 no estado do Michigan. Durante o terceiro trimestre, a administração Biden pediu ao público para não usar máscaras, e promoveu a mentira de que as crianças não podem se infectar ou transmitir a COVID-19.

A direita fascista liderada por Trump, com grupos similares internacionalmente, exigiu o abandono das medidas de saúde pública, promoveu teorias de conspiração e procurou desacreditar a vacinação, um componente crítico da luta para parar a pandemia.

Quaisquer que sejam suas discordâncias com a extrema-direita, Biden e outros defensores das medidas de mitigação inadequadas concordam sobre a questão mais essencial: nenhuma medida pode ser tomada que afete a riqueza da elite empresarial e financeira. A sua declaração criminosa e não científica de que a pandemia poderia ser parada apenas com a vacinação foi exposta com o surgimento da variante Ômicron.

Os principais jornais nos EUA, falando pela oligarquia financeira que domina a sociedade americana, responderam ao surgimento da variante Ômicron com uma campanha contra as medidas de saúde pública. “Os americanos e o resto do mundo precisam aprender a conviver com um vírus sempre em mutação”, escreveu o Wall Street Journal, que acrescentou: “O maior perigo são mais lockdowns pelo governo”.

O Washington Post publicou uma coluna de Megan McArdle, com o título: “Os EUA devem se defender da variante Ômicron ‒ sem recorrer ao lockdowns”.

“Os custos de mais lockdowns seriam elevados”, declarou McArdle, “desde problemas alimentares e overdoses de opiáceos até fracassos de pequenos negócios e escolas ficando atrasadas... Devemos ser mais seletivos em nossas políticas, optando por medidas anti-Covid que perturbem a vida cotidiana o mínimo possível”.

Como essas conseqüências ‒ que poderiam ser evitadas através da mobilização de recursos sociais ‒ se comparam com a morte de milhões de pessoas? O que McArdle, o Post e toda a classe dominante querem dizer na verdade é que nenhuma medida que ameace a ascensão infindável dos mercados de ações pode ser tomada.

O Washington Post, o Wall Street Journal e o resto da mídia podem falar sem fim sobre a COVID-19 estar acabando por conta própria ou se transformando em uma gripe, mas isto é a vida real, e a doença não se importa com as suas mentiras.

Os trabalhadores não devem basear a sua resposta nas mentiras ilusórias e convenientes da classe dominante, mas na realidade científica da pandemia.

A classe trabalhadora, nos EUA e internacionalmente, deve intervir e exigir a implementação de medidas críticas de emergência para parar a pandemia, baseada em uma estratégia de eliminação e erradicação. Isso exige que:

  • Toda a produção não essencial seja imediatamente interrompida até que a doença esteja sob controle. Todos os trabalhadores recebam 100% de salário pelo trabalho remoto ou, quando o trabalho remoto for impossível, sejam integralmente compensados pela perda de sua renda.
  • Todos os trabalhadores autônomos e pequenos empresários sejam compensados integralmente pelas perdas como resultado da interrupção da produção não essencial.
  • Todo o ensino presencial seja imediatamente suspenso e substituído pelo ensino remoto. Bilhões de dólares devem ser disponibilizados para garantir que cada criança e adolescente receba seu próprio computador moderno e serviço de internet de alta velocidade, com um ambiente de aprendizagem seguro, espaçoso e confortável em casa.
  • O sistema de saúde pública seja massivamente expandido e dezenas de milhares de coordenadores de saúde pública sejam contratados. Todos os infectados pela doença, ou expostos a ela, tenham acesso imediato e adiantado às equipes de saúde pública, enfermeiras e médicos, que podem monitorar seus sintomas e ajudá-los a realizar a quarentena com segurança sem infectar outras pessoas.
  • Trilhões de dólares sejam alocados para a criação de um programa global de vacinação. A distribuição de vacinas deve ser administrada por cientistas e especialistas em saúde pública com um mandato para proteger o mundo inteiro.

Os recursos para esse programa emergencial existem. Desde o início da pandemia, os bilionários americanos se tornaram mais de 60% mais ricos, e suas fortunas aumentaram com o massivo auxílio financeiro do banco central dos EUA, o Fed. Apenas a riqueza de Elon Musk aumentou de US$30 bilhões no início de 2020 para mais de US$300 bilhões hoje.

Toda a política da classe dominante foi construída sobre uma montanha de mentiras. Em cada passo, desde o surgimento da pandemia até o presente, a classe dominante tem justificado as suas medidas homicidas negando a realidade da ameaça e as medidas que devem ser tomadas.

O World Socialist Web Site e os Partidos Socialistas pela Igualdade afiliados ao Comitê Internacional da Quarta Internacional iniciaram a Investigação Mundial dos Trabalhadores à Pandemia de COVID-19. A investigação irá examinar e refutar todas as mentiras promovidas pelos governos e pela mídia nos últimos dois anos, um componente essencial para desenvolver dentro da classe trabalhadora uma compreensão do que aconteceu e do que deve ser feito. O WSWS já começou a recolher depoimentos de trabalhadores e cientistas.

A investigação deve estar ligada à organização e mobilização da classe trabalhadora internacional como uma força independente, através da formação de comitês de base em todos os locais de trabalho e bairros. Uma mudança na política não será realizada sem um movimento social e político massivo para exigir uma estratégia de eliminação global e erradicação.

O desenvolvimento de um movimento na classe trabalhadora levanta a necessidade de um confronto com toda a classe dominante e com o sistema capitalista. A política da oligarquia empresarial e financeira produziu uma catástrofe. A classe trabalhadora internacional deve lutar pelo socialismo.

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