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Perspectivas

Próxima primeira-ministra do Reino Unido Liz Truss diz estar pronta para aniquilação nuclear global

Publicado originalmente em 25 de agosto de 2022

Liz Truss, secretária de Relações Exteriores e a mais provável próxima primeira-ministra do Partido Conservador no Reino Unido, declarou que lançaria um ataque nuclear contra a Rússia, mesmo que isso resultasse na “aniquilação global”.

Durante um evento com os candidatos do Partido Conservador em Birmingham para determinar quem irá substituir Boris Johnson, John Pienaar da Times Radio disse a Truss que, se ela se tornasse primeira-ministra, rapidamente lhe seriam mostrados os procedimentos para o lançamento de mísseis nucleares dos submarinos britânicos do sistema Trident. “Isso significaria aniquilação global”, disse Pienaar. “Não vou perguntar se você pressionaria o botão, você dirá que sim, mas diante dessa tarefa eu me sentiria fisicamente doente. Como você se sente com essa idéia?'

Com o olhar frio e sem emoção, Truss respondeu: “Acho que é um dever importante do cargo de Primeiro Ministro e estou pronta para fazer isso”.

Ela repetiu: “Estou pronta para fazer isso”, provocando uma salva de palmas dos conservadores reunidos.

A resposta robótica e instantânea de Truss deve soar um alerta para os trabalhadores do mundo inteiro sobre o quão próximos estamos hoje da destruição nuclear.

Ela fala como uma das maiores defensoras entre as potências da OTAN do apoio à guerra por procuração contra a Rússia que está sendo travada pelo regime ucraniano e uma das principais propagandistas do conflito militar direto com Moscou. Em fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, colocou as forças nucleares russas em alerta máximo, com o porta-voz Dmitry Peskov citando observações “inaceitáveis”, “por diversos representantes em diversos níveis” sobre possíveis “confrontos” entre a OTAN e Moscou: “Eu não chamaria os autores dessas declarações pelo nome, embora fosse a ministra britânica das Relações Exteriores”.

Truss havia declarado recentemente à Sky News: “Se não pararmos Putin na Ucrânia, veremos outros sob ameaça: o Báltico, a Polônia, a Moldávia, e isso pode acabar em um conflito com a OTAN”.

Porém, Truss também fala em nome de toda a classe dominante britânica. Não apenas seu rival pela liderança, Rishi Sunak, teria respondido afirmativamente, mas também qualquer outro membro do establishment político britânico que busque o mais alto cargo do país.

Desde que as tensões com a Rússia e a China começaram a ser provocadas por Londres e Washington, tornou-se necessário declarar abertamente a prontidão para iniciar uma guerra nuclear. Isso começou em 2015, quando Jeremy Corbyn conquistou pela primeira vez a liderança do Partido Trabalhista, sobretudo com base em sua oposição à guerra do Iraque e na liderança da coalizão “Stop the War”. Quando questionado em uma entrevista em 15 de setembro se ele instruiria os chefes da defesa do Reino Unido a utilizar o sistema de armas nucleares Trident caso se tornasse primeiro-ministro, Corbyn disse que não. Ele sofreu um ataque implacável, com os conservadores, blairistas e figuras militares declarando ele inapto para o cargo, e ele capitulou em todas as frentes.

Durante um debate em 18 de julho de 2016, a então nova primeira-ministra conservadora, Theresa May, declarou como um ataque contra Corbyn sua própria prontidão para lançar um ataque nuclear. O substituto de Corbyn na liderança do Partido Trabalhista, Keir Starmer, também foi questionado pela BBC em 10 de fevereiro deste ano se estaria disposto a usar armas nucleares e respondeu: “É claro”. Isso foi apenas 14 dias antes da invasão russa da Ucrânia.

Starmer deu essa declaração após uma reunião com o secretário geral da OTAN, Jens Stoltenberg, sobre a qual ele comentou: “Quaisquer que sejam os desafios que temos com o governo, quando se trata da agressão russa, estamos juntos”.

Esse é o significado internacional mais amplo da declaração de Truss pela guerra nuclear. Essa não é apenas a política do imperialismo britânico. Ela é a política que está sendo levada adiante ativamente por todas as potências da OTAN, lideradas pelos EUA.

Em junho, a cúpula da OTAN em Madri, Espanha adotou um documento estratégico delineando planos para militarizar o continente europeu, escalar massivamente a guerra com a Rússia e preparar a guerra com a China. Ele se comprometeu especificamente a “fornecer toda a gama de forças” necessárias “para a guerra de alta intensidade e multifacetada contra concorrentes com armas nucleares”.

A Rússia e a China foram chamadas respectivamente de uma “ameaça” e um “desafio” para “nossos interesses”. A “postura de dissuasão nuclear” da OTAN, centrada nas armas nucleares americanas “em estações avançadas na Europa”, é colocada no centro de uma estratégia para “dissuadir, defender, contestar e negar em todos os domínios e direções”.

Os militares da OTAN já se sentem à vontade para discutir abertamente o desencadeamento de uma guerra nuclear. Em um simpósio em junho, o chefe da força aérea alemã, Ingo Gerhartz, declarou: “Para uma dissuasão credível, precisamos tanto dos meios quanto da vontade política para implementar a dissuasão nuclear, se necessário”, antes de acrescentar: “Putin, não se meta conosco!”. Em 13 de agosto, Hamish de Bretton-Gordon, o antigo comandante do regimento químico, biológico, radiológico e nuclear do Reino Unido, escreveu no Telegraph, insistindo: “O Reino Unido deve se preparar para a guerra nuclear”.

Truss traduziu essas discussões para os rosnados fascistas que a tornaram a favorita do Partido Conservador.

Como os trabalhadores devem responder a tal insanidade política?

As modernas armas nucleares são muito mais poderosas do que aquelas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Apenas 50 poderiam matar 200 milhões de pessoas, as populações somadas do Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Alemanha. Porém, isso seria apenas o começo. A modelagem da Universidade de Rutgers prevê que uma guerra nuclear em larga escala provocaria incêndios massivos e nuvens de fuligem que bloqueariam o Sol e devastariam as plantações. A era do gelo nuclear que se seguiria significaria a fome para três quartos das pessoas e mataria até cinco bilhões de pessoas em dois anos. Mesmo um conflito nuclear “menor” levaria provavelmente a 2,5 bilhões de mortes.

Em primeiro lugar, é necessário aceitar o que há muito se pensava ser impensável: As potências imperialistas estão considerando ativamente o uso de armas que destruiriam a humanidade e possivelmente toda a vida na Terra. Uma perspectiva do WSWS de 26 de março por Joseph Kishore e David North descreveu isso com precisão como “Cruzar o Rubicão psicológico”. O texto adverte sobre o conflito na Ucrânia: “O mundo está sendo levado à beira de uma catástrofe nuclear pelos governos dos EUA e de outras potências da OTAN, cujos líderes estão tomando decisões em segredo, enquanto escondem os verdadeiros interesses geopolíticos e econômicos em nome dos quais estão agindo”.

Em segundo lugar, as causas fundamentais da guerra devem ser compreendidas. O que está ocorrendo é uma redivisão do mundo pelas grandes potências imperialistas. Os governos americano e europeu não estão respondendo a um ato “não provocado” de agressão russa. Eles estão procurando completar uma política de cerco militar levada adiante desde a dissolução da URSS em dezembro de 1991, preparando a queda do regime de Putin e o controle sobre os vastos recursos da Rússia em nome do capital financeiro.

A única força social que pode deter essa catastrófica erupção de violência militar imperialista é a classe trabalhadora internacional, travando uma luta contra o capitalismo e pelo socialismo. Em sua resolução do congresso de 2022, “Mobilizar a classe operária contra a guerra imperialista”, o Partido Socialista pela Igualdade nos Estados Unidos explica:

Em seu nível mais fundamental, a guerra imperialista surge das contradições básicas do sistema capitalista – entre uma economia global e a divisão do mundo em Estados nacionais rivais, nos quais a propriedade privada dos meios de produção está enraizada. Entretanto, essas mesmas contradições produzem a base objetiva para a revolução socialista mundial. As conseqüências da guerra já estão intensificando enormemente os conflitos sociais dentro dos Estados Unidos. O impacto da inflação crescente está impulsionando a luta de classes, incluindo a erupção de greves e protestos entre trabalhadores automotivos, de linhas aéreas, do setor de saúde, educadores, trabalhadores de serviços e outros setores da classe trabalhadora.

Isso se aplica a nível internacional. No Reino Unido, por exemplo, está crescendo uma onda de greve que pode varrer Truss e os conservadores do governo.

O que é necessário em cada país é que os trabalhadores travem a luta de classes baseados em um programa socialista, mobilizando-se contra a guerra e contra todos os esforços da classe dominante, seus governos e partidos, e da burocracia sindical para fazê-los pagar pela guerra através de cortes salariais, perda de empregos e acelerações na linha de produção. Acima de tudo, os trabalhadores devem se conectar conscientemente a seus irmãos e irmãs de classe para travar uma luta comum contra o inimigo comum. As questões não poderiam ser colocadas de forma mais direta: guerra mundial e aniquilação nuclear, ou revolução socialista mundial.

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