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Perspectivas

EUA prestes a enviar mísseis Patriot à Ucrânia

Publicado originalmente em 15 de dezembro de 2022

Nesta semana, quase todos os principais jornais e noticiários na TV a cabo dos Estados Unidos publicaram reportagens sobre a administração Biden estar prestes a enviar à Ucrânia pelo menos uma bateria de mísseis terra-ar, Patriot.

Segundo a CNN, o sistema de mísseis Patriot “deve ser enviado rapidamente nos próximos dias”.

Soldados do exército americano ao lado da bateria de mísseis Patriot na Lituânia em 2017. (AP Photo/Mindaugas Kulbis)

Cada bateria custa mais de US$ 1 bilhão e exige uma equipe de 90 pessoas para ser operada, e seria seria o mais caro e complexo sistema de armas transferido para a Ucrânia.

Sean McFate, um membro sênior do Atlantic Council, disse ao Syracuse University News: “Este é um grande passo no compromisso dos EUA”. Ele acrescentou: “Os Patriots irão provocar uma reação russa”, chamando-a de “a ação mais agressiva dos EUA até hoje”.

Comentando sobre o significado do anúncio, Keir Giles, do think tank pró-guerra, Chatham House, disse à NBC: “Temos visto um processo incremental dos EUA dando mais capacidades essenciais para a Ucrânia à medida que se torna claro que as 'linhas vermelhas' da Rússia são apenas blefes e retórica”.

Alinhado à declaração do presidente dos EUA, Joe Biden, em dezembro de 2021 de que “não aceito as linhas vermelhas de ninguém”, os EUA têm identificado e tomado ações sistematicamente que o Kremlin insinuou anteriormente que provocariam uma retaliação militar contra a OTAN.

Em abril, os EUA ajudaram a Ucrânia a detruir o Moskva, o principal navio da frota do Mar Negro russa. Logo depois, os militares americanos anunciaram que estavam auxiliando ativamente a Ucrânia a localizar generais russos para serem assassinados e o Pentágono admitiu que havia empregado equipes militares na Ucrânia.

Os Estados Unidos forneceram em poucos meses à Ucrânia muitos de seus sistemas de armas mais avançados, incluindo as peças de artilharia M777, o sistema de mísseis de longo alcance HIMARS, o obuseiro autopropulsionado M109 Paladin, o míssil antirradar HARM, e o sistema de defesa aérea NASAMS.

O anúncio esperado de que os EUA agora irá empregar o sistema de mísseis Patriot na Ucrânia continuaria esse padrão de escalada, jogando um jogo mortal com a Rússia, um país com armas nucleares.

Em novembro, o ex-presidente russo, Dmitry Medvedev, alertou que se “a OTAN abastecer os fanáticos de Kyiv com complexos Patriot e com equipes da OTAN, eles irão se tornar imediatamente um alvo legítimo para nossas forças armadas”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reiterou as observações de Medvedev no dia 14, dizendo que o sistema de mísseis seria “certamente” um alvo para a Rússia.

No dia 14, Vladimir Dzhabarov, primeiro vice-presidente da comissão de assuntos internacionais da câmara superior do legislativo russo, disse: “Os EUA estão nos provocando a um conflito direto com a OTAN. Especialmente se eles fornecerem o sistema de defesa aérea Patriot”.

Ele acrescentou que os EUA estão “realmente colocando o mundo à beira de uma terceira guerra mundial”.

A justificativa para a decisão de enviar mísseis Patriot para a Ucrânia são os ataques de mísseis russos que estão sendo feitos contra a infraestrutura de energia ucraniana, o que está tendo consequências devastadoras para amplos setores da população ucraniana.

Porém, na sua reportagem sobre a decisão esperada de enviar os Patriots, o Voice of America citou o contra-almirante aposentado, Mark Montgomery, que questionou os EUA por planejarem abater drones russos, custando entre US$5 mil e US$20 mil cada, com mísseis que valem milhões de dólares cada.

“O Patriot é um sistema extremamente complexo e caro para operar. Cada projétil do Patriot custa entre US$3 [milhões] e US$4 milhões. Esse é um sistema muito caro. Eu acho que ele gastaria muito do dinheiro que está sendo reservado para eles com um retorno de investimento muito limitado”. Ele concluiu: “Para mim, o Patriot não é uma grande resposta” na defesa das cidades ucranianas dos ataques com drones.

É claro que o sistema Patriot não é uma “grande resposta” para o problema em que o imperialismo americano declara estar interessado.

Entretanto, o verdadeiro objetivo não é defender os centros populacionais da Ucrânia, mas permitir à Ucrânia obter superioridade aérea em apoio às operações ofensivas. O Patriot, o míssil terra-ar mais avançado e de longo alcance do exército americano, é capaz de abater aeronaves a até 170 quilômetros de distância, incluindo aquelas que operam potencialmente na Crimeia ou no território russo.

O Washington Post apontou que o envio representa uma grande mudança em relação à posição anterior de Biden de que os EUA não enviariam armas “avançadas” para a Ucrânia. O jornal escreveu que a administração “resistiu firmemente ao envio de certos armamentos avançados – incluindo mísseis de longo alcance, caças e tanques de batalha – com o argumento de que, aos olhos da Rússia, fazê-lo mergulharia os Estados Unidos ainda mais profundamente na guerra, e que a manutenção e operação de tais sistemas é complexa”.

A NBC citou um funcionário anônimo do“Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca”, que “recomendou reverter o curso”.

Os colunistas americanos, por sua vez, estão se preparando para uma maior escalada. Em um editorial de opinião no Washington Post, Max Boot exigiu que os EUA “deem à Ucrânia a capacidade de atacar cada centímetro do território russo ocupado” – o que, de acordo com Boot, inclui a Crimea.

Boot escreveu: “Na semana passada, a Ucrânia trouxe a guerra à Rússia em uma ação pequena, mas simbólica. A Ucrânia teria usado drones para atacar duas bases aéreas em território russo – uma delas a apenas 170 quilômetros de Moscou – que são utilizadas para operar os bombardeiros de longo alcance que lançam mísseis contra as cidades ucranianas”.

Boot observou que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, “não condenou os ataques”. Ele concluiu com isso que “A posição dos EUA parece ser de que se os sistemas de armas dos EUA não forem empregados, e os ataques forem focalizados estritamente em alvos militares, ele não fará oposição aos ataques”.

Boot concluiu: “A obtenção de acesso a projéteis de maior alcance permitirá aos ucranianos atacar mais efetivamente tais alvos militares em toda a amplitude do território ocupado pela Rússia. Isso inclui a Crimeia”.

Comentando na Foreign Affairs, o general aposentado do exército australiano, Mick Ryan, observou: “Se a Ucrânia puder continuar a vencer no campo de batalha, Kiev poderá tentar isolar e, possivelmente, até mesmo tomar todo o Donbass e a Crimeia. Retomar as duas áreas é um objetivo declarado do governo ucraniano. Porém, é preciso percorrer um longo caminho antes que a Ucrânia chegue ao ponto em que possa invadir a Crimeia”.

Os Estados Unidos estão aumentando massivamente seu envolvimento em uma guerra que produziu um desastre para o povo da Ucrânia. A economia do país foi destruída e a nova estratégia militar russa de degradar a infraestrutura de energia e água está tendo um impacto devastador durante o frio inverno ucraniano.

A Casa Branca calcula que, colocando uma pressão militar e econômica cada vez maior sobre a Rússia, isso irá aumentar as divisões dentro da oligarquia russa, com a esperança de que isso irá criar a possibilidade de mudança de regime através de um golpe palaciano contra o governo Putin.

Entretanto, existem forças significativas dentro do establishment político russo que estão exigindo uma resposta mais agressiva às ações provocativas dos EUA.

Em 10 de dezembro, a Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social realizou um evento intitulado “Por um movimento de massas da juventude e estudantes para deter a guerra na Ucrânia”!

Ao concluir o evento, o representante do conselho editorial internacional do WSWS, David North, advertiu: “O resultado desse processo, a menos que seja interrompido pela classe trabalhadora, será um cataclismo global em uma escala muito superior à violência do passado. Desde o início da guerra, o potencial uso de armas nucleares foi normalizado no discurso político”.

Ele concluiu: “A luta contra a guerra prossegue através da união da classe trabalhadora internacional e do fim do domínio capitalista através da revolução socialista mundial”.

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