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Juventude brasileira adere à onda de protestos contra a violência policial

Respondendo às manifestações massivas ocorridas ao redor dos Estados Unidos e do mundo, milhares de pessoas saíram às ruas em capitais brasileiras protestando contra a violência policial, o racismo e o governo do presidente fascista Jair Bolsonaro.

No domingo, centenas de pessoas participaram de uma manifestação no centro do Rio de Janeiro contra as operações mortais da polícia nas favelas, que deixou 177 mortos somente em abril. O protesto tomou como símbolo João Pedro Mattos, um jovem negro de 14 anos brutalmente assassinado pela polícia em maio. Embora o ato fosse pacífico, a polícia militar atacou os manifestantes com tiros de borracha e bombas de efeito moral. A TV Globo registrou um policial apontando um fuzil a um manifestante indefeso com as mãos para o alto.

No mesmo dia, outra manifestação foi convocada em São Paulo por torcidas organizadas de futebol que se reivindicam "antifascistas" e "pela democracia". O ato reuniu centenas de pessoas e fez referências ao assassinato de George Floyd. Num local próximo, se reunia um pequeno grupo de apoiadores fascistas de Bolsonaro, que vêm se manifestando em defesa de uma ditadura militar e do fim das medidas de distanciamento social contra o coronavírus.

Protesto de jovens em Curitiba contra racismo e violência policial, segunda-feira, 1 de junho. (Crédito: Twitter)

Os militantes de extrema direita provocaram a manifestação enquanto eram escoltados pela polícia militar, que em seguida reprimiu o protesto com spray de pimenta, tiros de borracha e uma "chuva de bombas" de gás lacrimogênio e efeito moral, segundo representantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Seis pessoas foram presas.

O governador João Doria, do Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB), saudou a ação brutal da polícia e afirmou que foi usada para "proteger" os manifestantes, impedindo um possível conflito. Ele declarou que seu governo proibirá manifestações no mesmo local e mesmo dia e afirmou que a polícia irá controlar mais duramente quem frequentar próximos atos, isto é, irá impedir que aconteçam.

Após os protestos no Rio de Janeiro e São Paulo, mais de mil jovens marcharam em Curitiba, capital do Paraná, na noite de segunda-feira. A polícia atacou os manifestantes brutalmente e prendeu oito pessoas. Vídeos mostram policiais fazendo uma varredura pelas ruas da cidade, atirando bombas e balas de borracha contra os manifestantes. Policiais também foram registrados atacando com cassetetes grupos já dispersos de manifestantes.

Além das manifestações nas ruas, os vídeos do assassinato de George Floyd e imagens dos protestos e da violência policial nos EUA foram amplamente compartilhados nas redes sociais brasileiras. Centenas de milhares se sentiram imediatamente identificados com as condições sociais existentes nos Estados Unidos e com a resposta política contra a violência policial que cresce internacionalmente.

O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e suas contradições estão sendo acirradas pela resposta da classe dominante à pandemia do coronavírus. O país possui já mais de 500 mil casos de COVID-19 confirmados, número inferior apenas ao dos Estados Unidos. Com o número de mortes tendo superado os 30.000, os governos de todos os estados, impulsionados por Bolsonaro e uma campanha da mídia, estão promovendo a reabertura assassina de todas atividades econômicas.

Além do perigo de morte pelo coronavírus, os trabalhadores brasileiros estão gravemente ameaçados pela miséria e fome. O desemprego, já estarrecedor antes do início da pandemia, cresceu com o fechamento de mais de cinco milhões de postos de trabalho. Entre aqueles que continuam empregados, os cortes salariais e suspensões de contrato já atingem mais de oito milhões.

O desespero econômico generalizado está sendo respondido pela burguesia brasileira com a ampliação da violência do Estado contra os trabalhadores, sobretudo seus setores mais empobrecidos. O Rio de Janeiro, após ter registrado no ano passado um aumento de 92% dos assassinatos cometidos pela polícia, superou esse índice durante a pandemia. Em relação ao mesmo período de 2019, o mês de abril e o início de maio tiveram um aumento de 28% no número de incursões da polícia em favelas e de 58% nas mortes provocadas por elas.

O terror deliberadamente espalhado pela polícia nas favelas e periferias das cidades brasileiras, muitas delas com a maioria de seus habitantes negros, apenas prepara a violência generalizada contra a classe trabalhadora e sua oposição social ao capitalismo.

O fascista Bolsonaro – assim como o presidente americano Donald Trump – busca entre as forças policiais e militares as bases de apoio para uma mudança a um regime abertamente ditatorial. Em fevereiro deste ano, quadros políticos do governo Bolsonaro lideraram uma greve de policiais militares no Ceará e discursaram em palanques aos soldados amotinados defendendo que “pela primeira vez, a gente tem um presidente que sabe o que é ser policial militar”.

Uma matéria do Portal Democratize revela que o responsável por provocar a repressão à manifestação em São Paulo no domingo é um coronel da polícia militar que trabalha para o Centro de Altos Estudos em Segurança e um fervoroso militante pró-Bolsonaro.

Bolsonaro tem reforçado seu apelo aos militares todos os finais de semana nas manifestações fascistas em frente ao palácio do governo em Brasília, nas quais suas aparições têm sido cada vez mais ostensivas. No último domingo o presidente sobrevoou a manifestação num helicóptero oficial e depois desfilou entre os manifestantes montado sobre um cavalo da polícia.

Entre os organizadores da manifestação em Brasília, está o grupo fascista diretamente impulsionado por figuras do alto escalão do governo, o "300 do Brasil". No dia anterior, eles haviam realizado uma marcha contra o Supremo Tribunal Federal, carregando tochas como nos atos fascistas da Ku Klux Klan americana.

A defesa de Bolsonaro de um regime de Estado policial é aberta e insistentemente baseada no perigo de um levante da classe trabalhadora contra a ordem capitalista no Brasil. Suas propostas de ampliação da intervenção do exército contra a população foram explicadas através do perigo de um levante massivo da classe trabalhadora como ocorreu no Chile no final de 2019, que ele classificou como "atos terroristas".

No início da pandemia Bolsonaro, alertou que "o que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil". E mais recentemente, na reunião ministerial de 22 de abril divulgada pela justiça, ele afirmou que as condições sociais atuais são um "terreno fértil" para levantes que ameacem a ordem política estabelecida.

A guinada à direita da classe dominante mundial, em especial nos Estados Unidos, é percebida por Bolsonaro como o principal ponto de apoio para seu projeto autoritário. No domingo, enquanto assessores do Palácio do Planalto discutiam a possibilidade de enviar a Força Nacional para reprimir as iniciais manifestações em São Paulo, Bolsonaro retuitou a postagem de Donald Trump ameaçando taxar a "Antifa" como uma organização terrorista.

O crescimento do sentimento de repúdio, em especial entre a juventude, ao avanço do autoritarismo e à formação de grupos fascistas financiadas pelo Estado é um desenvolvimento político importante.

Contudo, o desenvolvimento consequente de uma luta contra o fascismo e pelos direitos democráticos só é possível através de um movimento político de massas da classe trabalhadora, que avance um programa internacionalista e socialista.

Nenhum passo à frente nesse sentido será possível sob a liderança da burguesia e dos partidos da pseudoesquerda, que tentam dominar o atual movimento e têm como tarefa canalizar a oposição social para dentro do Estado burguês. Em aliança com a mídia oficial, buscam falsificar a natureza dos protestos que se desenvolvem nos Estados Unidos e no mundo, os classificando como um movimento racial.

Escondendo a composição multirracial dos protestos, eles tentam ocultar seus próprios interesses de classe pequeno-burgueses, limitando os objetivos da luta a reformas do Estado. Estabelecendo que a essência da violência policial é o "racismo estrutural", um crime do qual todos os brancos são culpados, querem calar a classe trabalhadora e empurrar a ideia de que colocar mais negros em posições de poder no Estado e nas grandes empresas é suficiente para resolver as contradições da sociedade.

O Partido dos Trabalhadores (PT), um dos principais proponentes dessa política direitista, está promovendo como candidata à prefeitura de Salvador, capital da Bahia, uma major da polícia militar, afirmando que o fato de ser mulher e negra a torna uma representante natural dos "anseios populares".

O que essas forças políticas temem acima de tudo, tanto quanto Bolsonaro e os demais políticos da burguesia, é o crescente espírito de combate da classe trabalhadora. Trabalhadores de call centers, frigoríficos, hospitais e serviços de entrega realizaram greves independentes contra a exploração e as condições inseguras de trabalho impostas pelos capitalistas. É em direção a esta força revolucionária que a juventude que está entrando em luta hoje deve se voltar.

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