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Professores municipais engrossam greve contra reabertura de escolas em São Paulo

Na quinta-feira, educadores da rede pública municipal de São Paulo entraram em greve contra a reabertura das escolas, somando-se aos seus cerca de 180 mil colegas da rede estadual que iniciaram uma greve no começa da semana. A Prefeitura de São Paulo havia ordenado seus cerca de 60 mil professores, além dos funcionários escolares, a retornar hoje às escolas para organizar o retorno das aulas presenciais na próxima segunda-feira, 15 de fevereiro.

A greve foi deflagrada pelos sindicatos diante de uma oposição massiva entre os educadores à política criminosa da Prefeitura de São Paulo e do governo do estado, ambos comandados pelo Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB), diretamente apoiado por Cláudio Fonseca, o presidente do SINPEEM, o maior sindicato dos educadores municipais.

Professores de Recife em greve no início do ano passado. (Facebook)

Um referendo do SINPEEM sobre a greve foi respondido por 5.251 professores afiliados, e 90% declarou-se a favor da greve. Os trabalhadores denunciaram o sindicato por não ter divulgado propriamente a votação.

Este acontecimento é um importante desenvolvimento do movimento de educadores no Brasil e internacionalmente que está desafiando a política capitalista de colocar os interesses de lucro acima dos interesses sociais de preservar vidas frente a pandemia. Outras greves foram decretadas no Rio de Janeiro e Paraná.

A COVID-19 já tirou 234.945 vidas no Brasil e milhares de pessoas seguem morrendo todos os dias por todo o país. Na quarta-feira, outras 1.357 mortes e 60.271 casos foram registrados. Novas variantes mais infecciosas do vírus estão se espalhando rapidamente entre a população, ameaçando fazer esses números explodirem.

São Paulo é um dos principais focos de disseminação do coronavírus no país. O estado ultrapassou o marco de 55 mil mortes pela doença nesta semana, com 332 novas mortes registradas na quarta-feira. Reabrir as escolas em São Paulo significa encaminhar 13 milhões de pessoas, ou 32% da população do estado entre alunos e educadores, às ruas e salas de aula enclausuradas, com um potencial devastador incalculável.

Na terça-feira, apenas um dia após ordenar a volta às aulas presenciais, o governo de São Paulo de João Doria do Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB) declarou o fechamento de sete escolas após funcionários infectados entrarem em contato com seus colegas. Educadores já denunciam contaminações e mortes por COVID-19 em 100 escolas estaduais, muitas das quais permanecem abertas.

O crescimento da greve dos professores em São Paulo é uma poderosa resposta à campanha coordenada da mídia com os governos municipais, estaduais e federal para atacar a verdade científica de que as escolas são um dos principais vetores de disseminação do coronavírus na sociedade.

Em um editorial no último domingo, a Folha de São Paulo, o jornal de maior circulação nacional, defendeu ser “A Hora da Escola”. O jornal tentou hipocritamente dissociar-se do presidente fascistoide Jair Bolsonaro, para quem as escolas jamais deveriam ter sido fechadas, enquanto defende a mesma política homicida.

Caracterizando fraudulentamente a reabertura das escolas como uma “flexibilização... necessária e bem fundamentada”, a Folha afirmou: “São compreensíveis os temores de parte dos pais e docentes, mas é descabido encarar a questão [a reabertura das escolas] como uma disputa entre defensores da vida e governantes insensíveis”.

Essa posição, que representa diretamente o ponto de vista da oligarquia capitalista brasileira, que expandiu suas fortunas durante a pandemia enquanto a desigualdade atingia níveis recordes, entra em choque com os interesses das massas trabalhadoras.

A greve dos educadores, como o jornal foi forçado a admitir, é apoiada pelas famílias da classe trabalhadora, que enxergam a medida sociopata promovida pelo governo “com desconfiança, quando não repulsa”.

A pesquisa mais recente divulgada pelo PoderData no último domingo aponta que 58% dos brasileiros pensa que as escolas devem permanecer fechadas, enquanto apenas 37% declarou-se favorável à reabertura. Isso se expressou em manifestações de apoio aos professores de São Paulo, como um protesto de familiares de alunos na zona sul da capital contra a reabertura insegura de sua escola, reportado pelo G1 na segunda-feira.

O movimento em São Paulo está recebendo amplo apoio nacionalmente. Uma greve de educadores no maior estado brasileiro, considerado a ponta-de-lança da campanha da classe dominante para reabrir escolas, está agitando os educadores pelo país.

Uma professora do Amazonas respondeu ao artigo do World Socialist Web Site sobre a greve em São Paulo: “Toda a solidariedade aos professores de São Paulo. No Amazonas, no ano passado, a partir de setembro na rede estadual, ciência e professores foram ignorados e obrigados a voltar às salas de aula, e esse fator certamente contribui pra triste realidade que estamos vivendo. Nossa rotina é dar os pêsames a familiares de colegas; os educadores não podem pagar com a vida [pela] insanidade das autoridades. AULAS PRESENCIAIS, SOMENTE DEPOIS DA VACINA”.

Professores em Pernambuco, onde uma greve foi deflagrada no último mês de setembro, estão protestando contra a traição do sindicato, Sintepe, que está colaborando com o governo para reabrir escolas. Uma professora reportou: “O Sintepe sentou com o governo Paulo Câmara [do Partido Socialista Brasileiro (PSB)] para elaborar protocolo de volta às aulas presenciais e ainda participou de uma comissão com pessoas do governo, visitando as escolas e dando aval [para] o governo reabrir as mesmas”.

Outra professora pernambucana questionou: “Qual é o objetivo de uma vacinação, principalmente agora e por COVID? O objetivo é a defesa da vida mas, para nós, o governo quer é pra que possamos dar aula, simplesmente. O governo não tá nem aí pra nossa saúde. Aí vem o Sintepe, com o maior interesse em resolver o ‘problema’ do governo, querendo que os professores sejam vacinadinhos logo, ao invés de exigir que forneçam subsídios para que todos fiquem em casa e tenham equipamento e internet de qualidade para as aulas remotas e qualidade no trabalho para os professores, além de organizar o espaço físico das escolas para o futuro, para quando voltarem às aulas com segurança na saúde”.

Os trabalhadores da educação defendem que a reabertura das escolas não é negociável, que não se trata de “resolver o ‘problema’ do governo”, mas da “defesa da vida”, de “prover subsídios para que todos fiquem em casa”. Os sindicatos por todo o Brasil defendem o contrário.

Em São Paulo, a deflagração de greve do SINPEEM afirmou que ela terá continuidade “até que sejam implementadas medidas que garantam a segurança sanitária para o retorno presencial”. O sindicato não deixa claro a quais medidas se refere. Ele também advogou a sua própria diretoria a “autorização” para “decidir por convocação de greve durante o período da pandemia”, isto é, sem votação dos trabalhadores. Esse direito outorgado é o caminho para um golpe contra os trabalhadores, permitindo ao sindicato quebrar a greve em qualquer momento.

Trabalhadores em São Paulo e em todo o Brasil precisam urgentemente conformar comitês de base para tomar a direção do movimento em suas próprias mãos. É preciso lutar para unificar os educadores da rede pública municipal e estadual, da rede privada, e dos diferentes estados do país, que estão sendo divididos pelos sindicatos.

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