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APEOESP e pseudoesquerda sabotam greve contra reabertura de escolas em São Paulo

Em uma manobra extraordinariamente traidora que envolveu os grupos que compõem a diretoria executiva da APEOESP – o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e as várias tendências do pseudoesquerdista Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – a greve dos professores de São Paulo foi sabotada nas assembleias virtuais realizadas na tarde da última sexta-feira, 12 de fevereiro.

Os professores das escolas públicas estaduais de São Paulo iniciaram uma “greve sanitária” no dia 8 de fevereiro, quando se iniciou a reabertura parcial de escolas no estado. Na quarta-feira passada, os professores das escolas públicas municipais de São Paulo também entraram em greve contra a reabertura de escolas.

Apesar de não irem às escolas, os professores estaduais em “greve sanitária” continuaram realizando o trabalho remoto. Eles estavam exigindo o fechamento das escolas com a pandemia fora de controle em São Paulo. Um dia depois do início da greve, o governo do estado anunciou que cortaria o pagamento dos professores que não fossem às escolas.

Professora em sala de aula com alunos, todos com máscaras, no primeiro dia de reabertura da E.E. Raul Antonio Fragoso, em 8 de fevereiro de 2021, durante a segunda onda da pandemia de COVID-19 na cidade de São Paulo, Brasil. (AP Photo/Andre Penner)

Segundo a APEOESP, 15% dos 180 mil professores do estado não foram às escolas no primeiro dia de greve. Além deles, 25% dos professores já estavam realizando o trabalho exclusivamente remoto por fazerem parte do grupo de risco. Mostrando o amplo repúdio das famílias brasileiras à reabertura de escolas, a APEOESP também informou que apenas 5% dos alunos participaram do ensino presencial na última segunda-feira. A expectativa do governo do estado era que 35% dos alunos fossem à escola.

Nas quatro assembleias virtuais regionalizadas de sexta-feira passada, a diretoria executiva da APEOESP apresentou uma proposta que defendia a continuidade da “greve pela vida”, mas pedia aos professores que voltassem às escolas e “assinassem o ponto”. Isso, na prática, significava o fim da greve. Toda a apresentação da proposta aconteceu em meio a uma tentativa deliberada dos membros da diretoria executiva de semear dúvida e confusão entre os professores presentes.

Na assembleia virtual da região da Grande São Paulo – onde a maior parte das subsedes do sindicato é controlada pela “oposição” do PSOL à presidente do sindicato, a deputada estadual pelo PT Maria Izabel Noronha, conhecida como Bebel –, a proposta da diretoria executiva foi apresentada por João Zafalão, líder sindical da tendência morenista do PSOL, Resistência. Na assembleia da semana anterior que havia deflagrado a greve, ele tentou adiar o início da greve para 19 de fevereiro, mesmo que isso pudesse levar a um aumento de contaminações e mortes de toda a comunidade escolar.

Zafalão começou com uma longa introdução sobre a gravidade da pandemia, dizendo demagogicamente que “a reabertura das escolas prematuramente é um crime .... Ontem foram 1400 mortos [no Brasil], e isso vai aumentar cada vez mais.” Porém, ele continuou, existe uma “contradição” entre a necessidade de fechar escolas” e a “baixa adesão ao movimento [grevista].”

Segundo ele, a proposta apresentada pela diretoria executiva, de “forma unitária”, era: “greve pela vida, semana de 15 a 19 de fevereiro com mobilização de ida às escolas para dialogar com professores, estudantes, pais e funcionários”. Em um reconhecimento explicito da incapacidade do sindicato de mobilizar os professores, ele concluiu: “A gente acha que esse é o caminho para manter viva a luta e não ter que depender só da COVID para fechar escolas.”

A presidente da APEOESP, Maria Izabel Noronha, e João Zafalão, da tendência morenista do PSOL, Resistência. (Facebook)

Se Zafalão genuinamente reconhecesse a tragédia anunciada que significa a reabertura de escolas, que ele e a diretoria executiva do sindicato não tivessem proposto de “forma unitária” o retorno dos professores às salas de aula! Toda a preocupação que expressou com o agravamento da pandemia com a reabertura de escolas são palavras vazias. Na prática, ele e a APEOESP estão do mesmo lado que o governador direitista de São Paulo, João Doria (PSDB), na tentativa de reabrir escolas.

A resposta dos professores presentes na assembleia virtual foi uma combinação de dúvida e indignação. Eles bombardearam o chat da assembleia virtual: “Não deu para entender a proposta da executiva. A proposta é fim da greve?”; “A proposta da executiva seria voltar [para a escola] ... assinando o ponto?”; “A proposta da executiva é voltar para a escola e chamar [isso] de greve”; “Voltar para a escola é aumentar as contaminações”; “Retorno às aulas é a política do governo!”; “Para fazer greve precisa ter professor vivo.”

Depois do caloroso debate no chat da assembleia virtual, Stenio Matheus, membro da diretoria executiva e do PSOL, deixou claro: “Tem gente perguntando: ‘é para voltar para a escola?’ Sim ..., o que significa assinar o ponto.”

Essa discussão também obrigou João Zafalão a apresentar uma outra proposta de votação na assembleia virtual da Grande São Paulo. Primeiro, 60% dos professores votaram pela continuidade da greve. Porém, na segunda votação, relativa ao “formato da greve”, a diretoria executiva insistiu em manter a proposta de “greve pela vida”, mesmo que isso significasse o fim da greve. A proposta vencedora foi manter a greve no “formato atual”, com os professores em “greve sanitária” não indo às escolas e continuando o trabalho remoto.

Depois do fim da assembleia virtual da Grande São Paulo, os professores ainda tiveram que esperar mais de três horas para descobrir o resultado conjunto das três outras assembleias virtuais. Em uma expressão do desprezo da APEOESP pela democracia interna e transparência, o sindicato não apresentou os resultados parciais de cada assembleia virtual, informando apenas que a proposta da direção executiva havia sido a vencedora.

No “Fax Urgente” que anunciou a decisão das assembleias virtuais, a APEOESP defende a criação de “comitês de fiscalização e vigilância ... para denunciar as condições de segurança sanitária nas unidades escolares”. O sindicato ainda insiste que “o retorno às aulas presenciais somente será possível com a vacinação dos profissionais da educação na primeira etapa e com todas as condições de segurança sanitária nas escolas.” Ou seja, a alegação que a APEOESP é a favor de uma greve para fechar as escolas – como defendeu ao longo de todo o ano passado – para evitar a explosão de casos e mortes por COVID-19 é uma mentira. Em escolas com estruturas precárias e com milhões de alunos sem previsão de serem vacinados, não existe protocolo de segurança que impeça a disseminação da pandemia.

A manobra ilegal realizada pela burocracia do PT, PCdoB e PSOL para efetivamente quebrar a greve dos professores das escolas estaduais de São Paulo aconteceu depois de os professores da rede pública municipal de São Paulo entrarem em greve contra a reabertura de escolas na última quarta-feira. Em um referendo virtual que contou com a participação de mais de 5 mil professores, a greve foi aprovada por 92% deles.

Os professores da assembleia virtual da Grande São Paulo também denunciaram a manobra da APEOESP para evitar uma luta unitária entre os professores das duas maiores redes de ensino do Brasil: “[Suspender a greve] agora que a prefeitura está entrando? Agora que dá para tomarmos mais força? Que absurdo.”; “Qual é a lógica de entrar em greve na municipal e na estadual não, sendo que a reivindicação é a mesma? Direito pela vida!”.

No entanto, a “lógica” por trás da manobra da APEOESP é clara: impedir uma luta unificada entre os professores estaduais e municipais contra a reabertura de escolas por temer que saia do controle do sindicato. As alegações da burocracia sindical contra essa luta unificada não poderiam ser mais ridículas. O membro do PSOL e da diretoria executiva Stenio Matheus explicou: “Alguém pode falar: ‘mas a prefeitura de São Paulo [entrou em greve]’, mas é outra realidade... Quem conversou com professores que acumulam, ouviu o seguinte: ‘farei greve na rede municipal, não farei na estadual.’ A gente pode fazer um balanço disso depois.”

Outra “realidade”?! Por mais que existam diferenças salariais e de condições de trabalho, a situação objetiva dos professores nas escolas públicas estaduais e municipais, assim como a dos professores na maioria de escolas particulares, é a mesma. A pandemia de COVID-19 não só acrescentou mais um interesse comum a esses professores – a luta pela vida – como também os uniu a todos os professores no mundo lutando contra a reabertura assassina de escolas.

A APEOESP nunca fez, e nunca fará, um “balanço” de seu longo histórico de traições, seja encerrando greves contra a vontade dos professores ou bloqueando uma luta unificada com os professores municipais de São Paulo e de todo o Brasil. Na verdade, a principal razão para a APEOESP não defender literalmente a suspensão da greve – e tentar encobri-la com o chamado de “greve pela vida” com retorno às escolas – foi a possibilidade de perder ainda mais sua quase nula credibilidade entre os professores.

Os professores de São Paulo há muito tempo não veem a APEOESP como instrumento de defesa de seus interesses, e por isso muitos deles se recusam a entrar em luta sabendo que serão traídos, como os eventos da semana passada mostraram. No chat da assembleia virtual da Grande São Paulo, eles expressaram esse sentimento, dizendo: “Uma semana de greve não dá para construir nada. ... E como faremos um novo chamado de greve diante desse recuo? Quem irá acreditar nesse sindicato já tão desacreditado?”; “As pessoas vão aderir [à greve] vendo as escolas fecharem pela COVID ou vendo outras categorias fortalecidas na greve. Voltar esta semana é desmoralização.”

Um professor ainda disse: “Sair [da greve] agora é desmoralização total. Arrisco a dizer que é o fim da APEOESP.”

A pandemia de COVID-19 tem exposto o caráter criminoso da elite dominante brasileira e mundial. No Brasil, a segunda onda está fora de controle: ontem, o país registrou a maior média móvel de mortes por COVID-19 desde o início da pandemia, e na quinta-feira passada 1452 pessoas morreram vítimas da doença, o terceiro maior número desde o início da pandemia. Em São Paulo, a semana passada terminou com um aumento de 8% nos óbitos em relação à última semana de janeiro, com uma média de 233 mortes por dia. A própria APEOESP reportou na sexta-feira, depois de uma semana de aulas presenciais parciais, 319 casos de COVID-19 em 179 escolas públicas estaduais.

Porém, a pandemia tem também exposto as organizações de pseudoesquerda de classe média que tentam dar uma cobertura de esquerda à política genocida da elite dominante em relação à pandemia. Isso inclui organizações morenistas e pablistas dentro de partidos de pseudoesquerda como o PSOL, assim como sindicatos como a APEOESP que defenderam a volta para as escolas.

Cada vez mais, a dinâmica da luta de classes está colocando a elite dominante e seus apologistas da pseudoesquerda que defendem a reabertura de escolas para salvar os lucros contra a classe trabalhadora que defende o fechamento de escolas para salvar vidas. Isso foi comprovado nos eventos da semana passada não só em São Paulo como também em Chicago, onde o sindicato de professores aprovou um acordo com a prefeita democrata para reabrir as escolas. A APEOESP e todos os grupos da direção executiva se colocaram contra os interesses dos trabalhadores.

Os recentes desenvolvimentos não foram apenas mais uma traição podre da direção burocrática da APEOESP. São a mais clara expressão de um longo processo histórico que transformou os sindicatos de organizações da classe trabalhadora em organizações que defendem os interesses das elites capitalistas nacionais.

Todos os professores que passaram por essa amarga experiência em sua luta para defender a vida contra a reabertura de escolas devem tirar as lições políticas necessárias. O que é necessário é uma ruptura consciente e completa com os sindicatos e a formação de novas organizações de luta, comitês de base independentes dos sindicatos armados com um programa socialista e internacionalista.

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