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Duas perspectivas para a classe trabalhadora

40 anos da greve da PATCO - Parte 4

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Publicado originalmente em 9 de agosto de 2021

“Se um sindicato, cujos membros trabalham diretamente para o Sr. Reagan, conseguisse agora um aumento salarial espetacular através de uma greve ilegal, isso seria o fim do programa econômico de Reagan. Investidores, banqueiros e credores concluiriam imediatamente que, qualquer que fosse sua retórica, a administração Reagan não estava levando a sério a redução da inflação. É por isso que o Sr. Reagan agora tem que permanecer absolutamente firme.” - Washington Post

“A assistência sindical deve ser oferecida imediatamente. Caso contrário, a PATCO morrerá.” - Carta do Presidente da PATCO Robert Poli a Lane Kirkland, em 21 de dezembro de 1981

“É fácil ser um militante imprudente e convocar uma greve geral, mas se você é um líder responsável você tem que avaliar as consequências.” - Lane Kirkland, Presidente da AFL-CIO

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Os dirigentes sindicais da AFL-CIO argumentaram que ampliar a greve da PACTO para envolver os trabalhadores da indústria aérea ou de outras categorias seria “suicídio”. Desconsiderando o papel da administração Carter na preparação da operação para quebrar os sindicatos, a burocracia sindical argumentou que Reagan era responsável pela ação contra a PATCO e, portanto, seria necessário apelar aos legisladores democratas e se preparar para derrotar os republicanos nas eleições de 1982. O presidente da AFL-CIO, Lane Kirkland, referiu-se ao Dia das Eleições como “Dia da Solidariedade II”.

A Workers League apresentou uma posição diametralmente oposta. Seu chamado para rejeitar as exigências de Reagan e expandir a greve a toda a indústria aérea e para uma greve geral correspondeu às exigências objetivas da luta. Também articulou o pensamento dos trabalhadores, muito mais do que a posição derrotista dos burocratas.

Com o prazo de Reagan chegando ao fim, as seções regionais da PATCO montaram piquetes em massa, como este no Centro de Controle de Chicago. (WSWS Mídia)

Mas a Workers League insistiu que isso exigia não apenas uma luta industrial, mas também uma luta política contra a burocracia e o sistema bipartidário. Um novo partido tinha que ser construído, um partido trabalhista baseado nos sindicatos e um programa socialista. Para isso, a Workers League fez campanha entre os trabalhadores para a convocação de um Congresso do Trabalho de emergência.

O Bulletin imediatamente avaliou o significado da greve. Em 4 de agosto de 1981, uma declaração do Conselho Editorial, intitulado “A AFL-CIO Deve Apoiar a Greve dos Controladores Aéreos: As Linhas de Classe estão Traçadas”, conclamava o movimento sindical a “mobilizar a força de toda a classe trabalhadora para apoiar os controladores de tráfego aéreo em greve contra a quebra dos sindicatos pela administração Reagan”.

A administração Reagan esteve envolvida nos últimos seis meses em uma contrarrevolução econômica e social, com o objetivo de revogar a legislação e os programas sociais conquistados pela classe trabalhadora durante os últimos 50 anos, aumentando o desemprego, eliminando todas as restrições à exploração capitalista, tais como regulamentos de segurança, e destruindo o padrão de vida conquistado por décadas de luta sindical. Isto foi superado com a aprovação do maior corte de impostos da história inteiramente voltado para as exigências das grandes corporações e dos ricos.

A declaração fazia um chamado para uma ação urgente dos outros sindicatos representantes dos trabalhadores do setor aéreo, incluindo a Associação Internacional de Mecânicos (IAM). Esta ação industrial deveria se espalhar, enfatizou, em uma greve geral contra as políticas da administração Reagan.

Reagan, a declaração observou, estava “falando por toda a classe dominante”, um fato também compreendido por grande parte da imprensa, que, seja ela liberal ou conservadora, condenou de forma esmagadora os controladores de tráfego aéreo. Como escreveu o Washington Post em um editorial de 4 de agosto:

Se um sindicato, cujos membros trabalham diretamente para o Sr. Reagan, conseguisse agora um aumento salarial espetacular através de uma greve ilegal, isso seria o fim do programa econômico de Reagan. Investidores, banqueiros e credores concluiriam imediatamente que, qualquer que fosse sua retórica, a administração Reagan não estava levando a sério a redução da inflação. É por isso que o Sr. Reagan agora tem que se manter absolutamente firme.

Nos dias iniciais da greve, os controladores acreditavam que sairiam vitoriosos apenas se cruzassem os braços. A natureza crítica e insubstituível de seu trabalho forçaria a administração Reagan a negociar, muitos pensavam, e os custos associados ao treinamento de novos controladores seriam extremamente altos - mais caros do que um aumento salarial negociado com a PATCO.

Grevistas no Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Aurora, perto de Chicago. (WSWS Mídia)

“As pessoas com dinheiro, os ricos, ainda estão sentados no chão”, disse Norman Hocker, um controlador com 13 anos de experiência no aeroporto de LaGuardia, em Nova York, ao Bulletin na primeira semana da greve. “Eles estão interrompendo voos corporativos e restringindo todos os outros voos. Vocês têm 16.000 trabalhadores que representam 27% da economia.”

Quando a greve começou, a Administração Federal de Aviação (FAA) contava com uma força de trabalho de 4.669 fura-greves, 3.291 supervisores, 800 controladores militares e 1.000 novos contratados para compensar a escassez causada pelos quase 12.000 em greve. O governo federal alegou ter conseguido recuperar a capacidade de tráfego aéreo em até 75% logo após o início da greve. No entanto, a força de trabalho dos fura-greves não correspondia de forma alguma à habilidade e qualidade dos trabalhadores em greve. [1]

“Estou preocupado. Eu não estaria em um avião hoje se pudesse evitá-lo”, disse Mitch Cook, um controlador grevista do LaGuardia, ao Bulletin. “Neste momento, há três supervisores e o EADP, que é o Especialista em Avaliação de Desenvolvimento de Proficiência, na torre. Normalmente, há 10 pessoas. É um absurdo pensar que eles poderiam trazer controladores militares para trabalhar aqui. O sindicato entende quais são as capacidades destes homens. Nosso sindicato vai permanecer forte e unido.”

De fato, a demissão dos trabalhadores da PATCO prejudicou seriamente os passageiros. O Conselho Nacional de Segurança dos Transportes (NTSB) descobriu mais tarde que “em alguns casos, os controladores em treinamento certificados em uma posição pela manhã e estavam realizando treinamento no mesmo posto de controle para outro controlador em treinamento na tarde do mesmo dia.”

A FAA atribuiu um acidente aéreo fatal perto de San Jose, Califórnia, a um erro do piloto. Dois aviões leves na aproximação do aeroporto da cidade colidiram no ar a 3 km da pista, matando uma pessoa e ferindo duas. A colisão no ar em 17 de agosto foi a primeira na história do aeroporto de San Jose, e foi a primeira em que a FAA isentou de responsabilidade o controlador de tráfego aéreo, um fura-greve, em poucas horas. Foi também o primeiro acidente fatal daquele período em que a PATCO foi excluída da investigação.

Em 13 de janeiro de 1982, ocorreu um grande desastre quando um Boeing 737 da Air Florida caiu em uma ponte sobre o rio Potomac em Washington D.C. logo após a decolagem, matando 78 pessoas. É possível que o controlador tenha cometido um erro responsável por esse desastre, pois o acúmulo de neve no avião após um longo período de espera na pista foi a causa provável do acidente.

O NTSB também determinou que o controlador cometeu um errou em um acidente 10 dias depois no aeroporto de Logan, em Boston. Esse acidente resultou na morte de duas pessoas a bordo. E bem após o fim da greve, o governo federal assumiu a responsabilidade pelo acidente em 9 de julho de 1982 do voo 759 da Pan Am, que matou 153 passageiros, admitindo que os controladores fura-greves não haviam fornecido instruções adequadas aos pilotos que voavam em condições climáticas difíceis. [2]

Grevistas e apoiadores no terminal de Newark, Nova Jersey. (WSWS Mídia)

Houve muito mais falhas por causa de controladores de tráfego aéreo inexperientes ou incompetentes que orientavam os voos. Enquanto a FAA escondeu essas informações dos passageiros, a Associação Canadense de Controle de Tráfego Aéreo (CATCA) registrou 41 incidentes inseguros em rotas entre os EUA e o Canadá ou perto da fronteira canadense após apenas uma semana de greve, incluindo uma série de “quase-acidentes”.

Reagan estava perfeitamente disposto a arriscar a vida dos passageiros para destruir a PATCO. Claramente, muito mais estava em jogo nesta greve do que as próprias negociações de contrato dos controladores.

Muitos grevistas disseram ao Bulletin que viam sua luta como sendo travada em nome de toda a classe trabalhadora. Se perdessem, disseram, a campanha para quebrar os sindicatos se espalharia por toda a economia. Por essas mesmas razões, muitos controladores e trabalhadores de outras indústrias perceberam que não era possível deixar a PACTO lutar sozinha.

“A principal coisa é que a forma como Reagan lida com a PATCO será precursora da forma como ele lida com as greves em geral e com todo o movimento operário”, disse o controlador de LaGuardia Norman Hocker ao Bulletin em 5 de agosto. “Estamos aqui tomando a primeira atitude.”

Os chamados para uma ação conjunta logo começaram a surgir de trabalhadores de outras indústrias, que reconheceram a natureza histórica do ataque da administração Reagan. O Bulletin e a Workers League amplificaram este sentimento. Na sexta-feira, 7 de agosto, o Bulletin publicou um chamado de primeira página dizendo: “Mobilizar os Trabalhadores Por Trás dos Controladores de Tráfego Aéreo: A AFL-CIO Deve Convocar Uma Greve Geral!”

Em 15 de agosto, Ed Winn, membro do Conselho Executivo da seção regional 100 do Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes (TWU) na cidade de Nova York, dirigiu-se a um comício com cerca de 400 controladores e seus apoiadores perto do Aeroporto JFK. Winn, também membro dirigente da Workers League, leu uma resolução a ser apresentada na próxima reunião da diretoria executiva do TWU, fazendo um chamado para uma ação de emergência em apoio à PATCO e exigindo uma greve geral de toda a AFL-CIO.

Charge que apareceu na edição de agosto de 1981 do jornal Young Socialist. (WSWS Mídia)

Na mesma semana, a seção regional 15 de Houston do IAM enviou telegramas a Kirkland e ao presidente do IAM, William Winpisinger, exigindo que fosse convocada uma greve geral.

Até mesmo os dirigentes sindicais foram obrigados a reconhecer o sentimento de greve geral. Ralph Liberato, um dirigente da AFSCME de Michigan, foi questionado em 16 de outubro pelo Bulletin se a AFL-CIO de Michigan iria iniciar o chamado para uma greve geral em apoio à PATCO. Liberato disse: “Tem-se falado muito sobre isto entre nossos membros, e muitos deles perguntam por que não o fazemos”.

Da mesma forma, em 26 de agosto, David Roe, presidente da AFL-CIO de Minnesota, disse a um repórter do Bulletin que “o sentimento de uma greve geral é forte e crescente”. Afirmando que apoiaria essa iniciativa, ele disse que a decisão final caberia ao Conselho Executivo da federação. Em setembro, 800 delegados na convenção anual da AFL-CIO de Minnesota votaram unanimemente a favor de fazer um chamado à AFL-CIO nacional para lançar uma greve geral em todo o país.

No final de setembro, Kirkland admitiu que havia um sentimento avassalador para uma greve geral. “Nunca recebi tanta correspondência sobre qualquer assunto em minha vida. Recebi uma enorme quantidade de telegramas, cartas, bilhetes”, disse Kirkland. “Cerca de 90% são pró-controladores e cerca de 50% deles me denunciam por não convocar uma greve geral.” [3]

Mas os dirigentes sindicais repudiaram os chamados para uma greve geral, com Kirkland declarando: “É fácil ser um militante imprudente e convocar uma greve geral, mas se você é um líder responsável, você tem que avaliar as consequências”.

Lane Kirkland, presidente da AFL-CIO, em fevereiro de 1983. (WSWS Mídia)

A ação de Reagan foi tão provocadora que quando a greve começou, o Conselho Executivo e o Conselho Geral da AFL-CIO estavam efetivamente se reunindo no luxuoso hotel Hyatt Regency, em Chicago. Os burocratas da AFL-CIO ficaram surpresos com a notícia da greve. De acordo com o historiador Joseph McCartin, alguns dos dirigentes sindicais “estavam apenas vagamente conscientes de que a PATCO era filiada à AFL-CIO”.

Aqueles que sabiam da existência dos controladores de tráfego aéreo estavam principalmente preocupados com as dificuldades que a greve poderia representar para suas novas amizades de “cooperação” com os grandes negócios. A reunião do Conselho Executivo enviou sinais claros à administração Reagan de que a AFL-CIO estava preparada para colaborar no esmagamento da PATCO.

A reunião em Chicago saudou o sindicato dos trabalhadores da indústria automotiva, o UAW, e seu presidente, Douglas Fraser, de volta ao grupo pela primeira vez desde que Walter Reuther se retirou da federação. Fraser, que estava esfregando ombros com poderosos capitalistas no conselho corporativo da Chrysler, temia que a greve “pudesse causar danos maciços ao movimento operário”.

O Bulletin comentou em 7 de agosto: “Que lógica extraordinária! [Reagan] está tentando empobrecer milhões de famílias da classe trabalhadora, mas Fraser alerta que a luta contra este governo ‘pode causar danos maciços ao movimento operário’”.

A reunião do Conselho Executivo da AFL-CIO começou e terminou em 6 de agosto de 1981 sem levantar um dedo para os controladores de tráfego aéreo. Apenas um mês depois, em 3 de setembro de 1981, Reagan foi autorizado a se dirigir à convenção anual de um sindicato da AFL-CIO, a Irmandade Unida dos Carpinteiros. Ele aproveitou a ocasião para lançar um ataque aos sindicatos. Os delegados reunidos permaneceram educadamente sentados. [4]

Se a AFL-CIO e seus sindicatos não fossem lançar uma greve geral, eles poderiam, no mínimo, ter honrado os piquetes da PATCO. Já em 7 de agosto, o presidente da PATCO, Robert Poli, enviou telegramas a todos os sindicatos da AFL-CIO pedindo que não cruzassem os piquetes que estavam sendo realizados em centenas de aeroportos ao redor do país.

Mas nem mesmo o princípio básico do sindicato de respeitar os piquetes foi cumprido. Nenhuma ajuda foi recebida da “Casa do Trabalho”.

De fato, se apenas uma outra categoria da indústria aérea sindicalizada tivesse entrado em greve ou mesmo acompanhado os piquetes - os mecânicos das companhias aéreas, os pilotos, os assistentes de bordo, os bagageiros - a situação da PATCO teria sido imensamente reforçada. Os dois sindicatos mais importantes da indústria aérea, a Associação Internacional de Mecânicos (IAM) e a Associação de Pilotos de Linha Aérea (ALPA), foram os mais decisivos para o destino da greve. Mesmo sem uma greve geral, as ações da IAM e da ALPA teriam por si só derrotado a campanha de destruição dos sindicatos, como lembrou mais tarde um funcionário do Departamento de Transportes de Reagan. “Se os mecânicos tivessem entrado em greve, não poderíamos ter resistido”, admitiu. “Teria fechado cada um dos aeroportos.” [5]

Winpsinger do IAM, um autodenominado “socialista” e supostamente um militante, ofereceu retórica sobre o respeito aos piquetes. E embora algumas seções regionais da IAM tenham começado uma desaceleração do trabalho, Winpisinger e o sindicato internacional não foram além das palavras.

Ao entrevistar Winpisinger, um repórter do Bulletin perguntou se ele tinha alguma intenção de convocar uma greve de apoio entre seus membros na indústria aérea. “Seria cometer suicídio para 40.000 dos meus membros”, declarou Winpisinger. “Poderia até estar declarando a morte de todo o sindicato”.

Grevistas no Aeroporto de Bishop, em Flint, Michigan. (WSWS Mídia)

J.J. O’Donnell da ALPA não se preocupou nem mesmo em fingir apoiar a greve. Ele informou o Conselho Executivo da AFL que não chamaria seus membros para honrar os piquetes da PATCO. De fato, O’Donnell trabalhou conscientemente para derrotar a greve, contestando abertamente as alegações da PATCO de que a demissão dos controladores tornou o tráfego aéreo menos seguro. Esta posição foi contrariada por uma comissão de segurança de seu próprio sindicato que encontrou “um definido risco de segurança” criado por controladores não qualificados. [6]

Na verdade, a ALPA não precisou nem mesmo violar as leis trabalhistas federais para apoiar a greve. O Regulamento Federal de Aviação 91.3 garante que os pilotos tenham a última palavra sobre se eles acreditam que as condições de voo não são seguras.

O’Donnell estava, de fato, recebendo relatórios regulares e confidenciais de seu próprio Comitê de Controle de Tráfego Aéreo alertando sobre o sério “impacto de segurança” causado pelo cansaço entre os controladores substitutos sobrecarregados e do “maior perigo potencial”. Um piloto havia escrito ao comitê que “a possibilidade de um controlador detectar um desvio do piloto a tempo de evitar um acidente é remota”. Esses alertas continuaram. Era só a ALPA divulgar esses relatórios entre sua própria base para iniciar o que teria sido, de fato, uma greve de apoio.

Em vez disso, O’Donnell mentiu descaradamente a seus próprios membros, declarando em 19 de agosto: “Posso dizer sem dúvida que o sistema de controle de tráfego aéreo neste país é seguro. Se não fosse seguro, seríamos os primeiros a nos manifestarmos.” Naquele mesmo dia, dois aviões colidiram perto de San José, Califórnia, matando o piloto de um deles.

A operação fura-greve de O’Donnell contra a PATCO fez parte integrante do ataque que ele estava empreendendo contra seus próprios pilotos. Mesmo quando os controladores de tráfego aéreo iniciaram sua greve, O’Donnell estava negociando cortes salariais de 10% para os pilotos da Pan Am e um aumento de 30% no tempo de voo por mês para os pilotos da United Airlines. Em 1983, Reagan recompensou O’Donnell pelos serviços prestados, nomeando-o secretário adjunto do trabalho.

O conluio entre a AFL-CIO e Reagan era desconhecido pelos controladores na época. Mas já em 13 de agosto, Kirkland buscou negociações secretas nos bastidores com a Casa Branca. Em 14 de agosto, ele enviou uma proposta através do líder da maioria do Senado, Howard Baker, oferecendo a demissão de Poli, líderes sindicais e controladores militantes. Os trabalhadores recontratados seriam obrigados a pagar uma multa e reafirmar seu compromisso de não realizar greves. Reagan, em troca, ofereceria uma comissão de “averiguação” para analisar as reivindicações sindicais.

Os trabalhadores do sindicato não tinham “conhecimento dessas maquinações secretas”, escreveu McCartin. Enquanto Kirkland trabalhava nos bastidores para minar a greve, o historiador acrescenta, “os membros da AFL-CIO receberam pouca orientação sobre como responder aos esforços públicos para quebrar uma greve nacional”.

Kirkland declarou: “Os sindicatos membros terão que decidir por si mesmos o que fazer. Eu não vou fazer essa avaliação.” [7]

Toda a extensão da traição dos sindicatos talvez nunca seja totalmente conhecida, mas pode-se presumir com segurança que Reagan levou adiante a demissão dos trabalhadores da PATCO com garantias diretas de que a AFL-CIO impediria ações de apoio. Um exemplo de provável conluio surgiu apenas anos após a greve. Albert Shanker, presidente da Federação Americana de Professores (AFT), e Leon B. Applewhaite, da Autoridade Federal de Relações Trabalhistas, tiveram um jantar não divulgado em setembro de 1981, no qual o caso PATCO foi discutido, em provável violação à lei trabalhista federal. Applewhaite acabou decidindo a favor da descertificação da PATCO. [8]

A perspectiva da AFL-CIO para pressionar os políticos democratas serviu apenas para desmoralizar os grevistas e desorientar a classe trabalhadora em geral. Houve alguns pronunciamentos vagos de simpatia pelos controladores de tráfego aéreo por parte dos democratas, mas muitos também condenaram a greve. O prefeito democrata de Detroit Coleman Young, considerado pelo UAW em particular um “amigo do trabalho” e ele próprio ex-operário da indústria automotiva, acusou os grevistas de “manterem a nação refém” por exigências “ultrajantes”, chegando ao ponto de chamar Reagan de “herói” por enfrentar a PATCO.

A administração Reagan temia que os sindicatos internacionais apoiassem a PATCO. Mas a greve foi uma lição objetiva no fracasso da colaboração internacional entre os vários sindicatos nacionais - embora o controle do tráfego aéreo fosse, pela própria natureza do trabalho, uma indústria globalizada, e embora os controladores em outros países pudessem em breve enfrentar quaisquer concessões que Reagan impusesse a seus irmãos americanos.

A inação dos sindicatos de controladores de tráfego aéreo em outros países aconteceu apesar do amplo apoio à PATCO entre os controladores de base em todo o mundo, que estavam lutando contra condições semelhantes. Controladores canadenses, mexicanos, alemães, britânicos, franceses e australianos tinham, durante a década de 1970, feito greves, paralisações e desacelerado o trabalho.

De fato, nos primeiros dias da greve da PATCO, os controladores canadenses da Associação Canadense de Controladores de Tráfego Aéreo (CATCA) se recusaram a atender os voos com destino aos EUA que cruzavam o espaço aéreo canadense a partir do Atlântico, declarando o sistema americano inseguro. O governo canadense, instigado pela administração Reagan, pressionou os controladores canadenses para que cumprissem a lei, e a CATCA cancelou seu boicote em 12 de agosto, antes que outro boicote de apoio dos controladores portugueses pudesse entrar em vigor em 16 de agosto. Durante algum tempo, os controladores portugueses se recusaram a atender voos para os EUA. Os controladores espanhóis iniciaram uma desaceleração do trabalho de apoio. Alguns voos dos EUA vindos da Austrália também foram suspensos.

Apesar do abandono dos sindicatos, os controladores na Europa, Japão e Austrália continuaram a fazer doações para a PATCO.

O órgão de vários sindicatos nacionais de controladores, a Federação Internacional das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo (IFATCA), respondendo às demandas dos membros por apoio à PATCO, convocou uma reunião de emergência para ser realizada em 22 de agosto em Amsterdã. A PATCO, no entanto, havia se retirado da organização anos antes, um reflexo do nacionalismo extremo dos sindicatos americanos.

Em 13 de agosto, antes da reunião de emergência planejada, a IFATCA decidiu adiar indefinidamente um boicote de apoio planejado aos voos com destino aos EUA, uma ação que também teria derrotado Reagan. Na própria reunião, nenhuma maioria para um boicote poderia ser alcançada.

Dentro dos Estados Unidos, a manifestação do Dia da Solidariedade em Washington mostrou que existia na classe trabalhadora o desejo de lutar contra as políticas de Reagan. Não era a única manifestação de resistência da classe trabalhadora.

Uma manifestação do Dia do Trabalho contra Reagan na cidade de Nova York em 7 de setembro atraiu 250.000 pessoas. Em 8 de setembro, 22.000 professores de escolas públicas da Filadélfia entraram em greve contra cortes de benefícios e desafiaram ordens de prisão e judiciais de volta ao trabalho. No início do ano, cerca de 6.000 mineiros de carvão e suas famílias haviam se manifestado em Washington D.C. em defesa dos benefícios e proteções contra a doença conhecida como “pulmão negro”, enquanto 20.000 ferroviários haviam marchado contra cortes no financiamento da Conrail e da Amtrak, e 100.000 trabalhadores e jovens haviam se manifestado contra as políticas assassinas de Reagan na América Central.

Mas o Dia da Solidariedade provou ser a primeira e última ação significativa que a AFL-CIO autorizou contra as políticas de guerra de classe e de quebra de sindicatos da administração Reagan.

Depois de o sindicato ter sido oficialmente descertificado em 3 de novembro de 1981 - a primeira vez que uma ação desse tipo foi tomada na história americana - a AFL-CIO capitulou publicamente. Nas palavras do presidente do UAW, Fraser, “A guerra acabou”.

Parecendo ignorar o perigo do precedente estabelecido para os outros sindicatos, Kirkland declarou que a decisão da Autoridade Federal de Relações Trabalhistas “confirma a capacidade do governo de usar seu enorme poder para quebrar este pequeno sindicato”.

O Bulletin publicou um alerta antes da reunião da convenção bienal da AFL-CIO no início de novembro. “O que a Convenção deve enfrentar é o fato de que não há luta contra Reagan sem romper decisivamente com o Partido Democrata e mobilizar politicamente a classe trabalhadora contra as políticas capitalistas através da construção de um Partido Trabalhista baseado nos sindicatos.”

Ao invés disso, a convenção se reuniu e se dispersou sem ter tomado nenhuma medida concreta para ajudar os controladores. Isso provou, o Bulletin observou, “a falência total da política de colaboração de classe da burocracia”. O Bulletin acrescentou: “Historicamente, está terminado”. O jornal da Workers League continuou: “Entretanto, quanto mais claro fica que a defesa dos direitos básicos conquistados pela classe trabalhadora requer uma luta contra o capitalismo, mais desesperadamente a burocracia se apega às políticas capitalistas”.

Em dezembro, Poli escreveu a Kirkland pedindo-lhe para não “deixar a PATCO morrer”. Poli declarou: “A assistência sindical deve ser oferecida imediatamente. Caso contrário, a PATCO morrerá. E com essa morte testemunharemos não apenas a destruição de um segmento do sindicalismo, mas, mais importante ainda, o esmagamento de um sindicato relativamente pequeno cuja coragem gerou um ressurgimento de compromisso e orgulho.” Kirkland ignorou a carta.

Em uma medida desesperada para tentar salvar seu sindicato, Poli apresentou sua demissão em 31 de dezembro de 1981. Essa ação não apaziguou a Casa Branca de Reagan.

Em 29 de janeiro de 1982, Gary Greene, um dos controladores do Texas condenado à prisão por seu papel na greve, escreveu a Kirkland pedindo-lhe que convocasse uma greve geral. A carta aberta foi publicada no Bulletin.

“O Presidente Reagan está vencendo sua batalha contra a PATCO e ganhará suas futuras lutas contra todos os sindicatos enquanto o sindicato permitir que isso aconteça. A única maneira de acabar com esta luta e restaurar a credibilidade dos líderes sindicais é com uma GREVE NACIONAL”, escreveu Greene. Esta carta foi endossada em reunião de 180 controladores na área da Baía de São Francisco.

O gabinete de Kirkland respondeu afirmando desonestamente que não havia apoio para uma greve geral e sugerindo que os sindicatos redobrassem seus esforços para eleger os democratas nas eleições de 1982.

O apoio às famílias dos controladores da PATCO foi sufocado. Em fevereiro de 1982, a AFL-CIO havia distribuído apenas US$646.000 para 1.407 famílias dos controladores da PATCO, menos de US$500 por família. [9] O UAW doou apenas US$ 100.000 em ajuda à PATCO, embora o dinheiro à sua disposição tivesse origem exclusivamente de investimentos superiores a US$ 56 milhões por ano, em média, no início dos anos 1980. [10]

Em junho de 1982, o Tribunal de Apelação do Distrito de Colúmbia manteve a descertificação da PATCO pelo Conselho Federal de Relações Trabalhistas.

No verão de 1982, Gary Eads, que sucedeu a Poli como presidente da PATCO, entrou com um pedido de liquidação do sindicato no tribunal de falências, diante de mais de US$ 39 milhões em pedidos de indenização concedidos às companhias aéreas contra o sindicato.

Continua.

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Referências

[1] Greenhouse, Steven. The Big Squeeze: Tough Times for the American Worker. 1a edição. Nova York: Alfred A. Knopf, 2008: p. 81; McCartin, Joseph Anthony. Collision Course: Ronald Reagan, the Air Traffic Controllers, and the Strike That Changed America, 2013: pp. 296-297, 301.

[2] Nordlund, Willis J. Silent Skies: The Air Traffic Controllers’ Strike. Westport, Conn.: Praeger, 1998: pp. 149-150.

[3] “No Action from AFL-CIO”, Bulletin. 3 de Novembro de 1981: p. 15.

[4] McCartin, Collision Course: pp. 317-318.

[5] McCartin, Collision Course: p. 292.

[6] Nordlund, Silent Skies: pp. 125-126.

[7] McCartin, Collision Course: p. 315.

[8] Nordlund, Silent Skies: pp. 147-148.

[9] Minchin, Timothy J. Labor Under Fire: A History of the AFL-CIO Since 1979. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2017: p. 66.

[10] McLaughlin, Martin, Corporatism and the UAW: What Is Behind the Concessions — and How to Fight Them. Detroit: Labor Publications, Inc., 1983: p. 16.

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