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Casos explodem no Brasil com avanço da Ômicron pelo país

Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se pronuncia sobre vacinação infantil. (Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil)

Apesar do persistente apagão de dados epidemiológicos no Brasil e subnotificação deliberada de casos, os indícios de uma nova onda explosiva de casos de COVID-19 no país são inquestionáveis. A primeira semana de 2022 foi marcada por crescentes reportagens de aumentos exponenciais no números de casos e internações hospitalares em diferentes estados e cidades brasileiras.

Na sexta-feira, 63.292 novos casos foram reportados, um aumento de 77% em relação ao dia anterior. Este é o maior número registrado desde julho de 2021. Uma semana antes, a média móvel de casos diários no país era de 7.238. Uma série de estados reportaram crescimentos ainda mais assombrosos.

No Rio Grande do Sul, o governo estadual emitiu em 4 de janeiro um alerta a todas as suas 21 regiões após registrar uma média de 75,9 casos por milhão de habitante, 13 vezes maior do que a média de apenas uma semana antes, de 5,7 casos por milhão de habitante. Os números continuam crescendo dia a dia, com 1.370 novos casos notificados na segunda-feira, 2.138 na terça-feira, 3.464 na quarta-feira e 5.363 na quinta-feira.

Em Santa Catarina, os casos de COVID-19 aumentaram 560% entre 19 de dezembro e 1º de janeiro, segundo seu Boletim Epidemiológico de 4 de janeiro. Nesse período de 10 dias, foram contabilizados cerca de 2.800 casos no total. No entanto, 2.700 novos casos foram registrados somente na quinta-feira.

No estado do Rio de Janeiro, 6.551 casos foram registrados apenas nos primeiros quatro dias do ano, contra 8.008 casos em todo o mês de dezembro. Ao lado disso, o percentual de testes positivos cresceu assustadoramente nos últimos dias, indicando uma explosão de contaminações subnotificadas. De 13 resultados positivos a cada 100 testes realizados na última semana de dezembro, o número saltou para 41 a cada 100 esta semana.

Enquanto isso, unidades de saúde em todo o Brasil estão mais uma vez sobrecarregadas pelo afluxo massivo de pacientes de COVID-19 e gripe. OGlobo reportou que ao menos 10 estados brasileiros estão com seus sistemas pressionados pelo aumento de casos de COVID-19.

O estado de São Paulo indicou que o número de pacientes internados com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) dobrou de dezembro para janeiro. As unidades de pronto-atendimento públicas e privadas da capital têm filas de espera de horas, com alguns hospitais registrando recordes de atendimentos. No Pernambuco, as solicitações de leito de UTI para pacientes com síndromes respiratórias cresceram 858% nas últimas duas semanas. E em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, os leitos públicos de COVID-19 já atingiram capacidade máxima.

Apesar dos claros indícios da catástrofe viral em andamento, uma avaliação concreta do estágio de desenvolvimento da pandemia de COVID-19 no Brasil está sendo seriamente minado por um escandaloso apagão nos dados epidemiológicos do país, que persiste há mais de um mês.

Após declarar ter sido vítima de ataques hackers a sua plataforma digital no final de novembro, o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro foi incapaz de reestabelecer acesso a dados centrais para a análise epidemiológica. O principal boletim epidemiológico do país, o InfoGripe, da instituição de saúde pública Fiocruz, não é publicado há cerca de um mês por falta de dados do SIVEP (Sistema de Vigilância Epidemiológica).

Essa situação gravíssima, que perdura pela negligência criminosa do governo Bolsonaro, está sendo tratada com indiferença pela imprensa burguesa e o establishment político brasileiro como um todo. Os únicos a levantar a voz seriamente contra esse crime são cientistas e pesquisadores engajados no monitoramento e combate da pandemia de COVID-19 no Brasil.

Em 30 de dezembro, o coordenador do Boletim InfoGripe, Marcelo Gomes, denunciou no Twitter a falta de repasse dos dados pelo Ministério da Saúde. Ele questionou: “Quais são os vírus que estão dominando em cada local? Quais as faixas etárias mais afetadas? Intensificou o aumento, se manteve lento, reverteu? Não sabemos”.

Na quarta-feira, a Rede Análise COVID-19, grupo multidisciplinar de pesquisadores voluntários sobre a pandemia no Brasil, fez um apelo a seus seguidores no Twitter, convocando uma mobilização nas redes sociais pela “cobrança dos dados abertos da covid-19 no Brasil, que estão fora do ar desde o início de dezembro de 2021”.

O epidemiologista Pedro Hallal tuitou: “A ômicron bombando no Brasil e as estatísticas oficiais não mostram. [Por quê]? Apagão de dados. Baixa testagem. Quem é a instituição responsável por cuidar dos dados e da testagem? O Ministério da Saúde, que está completamente sem rumo”.

O neurocientista Miguel Nicolelis tuitou: “Brasil está claramente enfrentando uma nova onda de COVID-19 mas [ninguém] tem a menor ideia da sua dimensão real [porque não] se testa, [não] se registram dados confiáveis e mídia tirou a pandemia da pauta. Vivemos de relatos esporádicos e anedotas. Mas é evidente que a terceira onda chegou!”.

Enquanto o novo estágio da catástrofe da COVID-19 se desenrola no Brasil, os opositores corrompidos e covardes de Bolsonaro no sistema político burguês dão passe livre ao presidente fascistoide para seguir cometendo os mesmos crimes contra a humanidade que foram publicamente expostos pela CPI da COVID-19 no final do ano passado.

Bolsonaro continua impunemente a espalhar mentiras perniciosas sobre o vírus e as vacinas e a sabotar qualquer medida de controle da pandemia. Em uma coletiva de imprensa na quarta-feira na porta do Hospital Vila Nova Star, após esclarecer que sua internação emergencial por dores abdominais foi causada por camarões mal mastigados em seu almoço de domingo, Bolsonaro insistiu na estratégia da “imunidade de rebanho” em resposta à nova onda da COVID-19. “Vivemos um momento difícil da pandemia, com influência direta na economia”, ele declarou, “o ‘fica em casa e a economia a gente vê depois’, vem inflação em cima disso, preço de combustível e tantos outros problemas”.

Nas semanas anteriores, o presidente dedicara-se a atacar publicamente a vacinação de crianças contra a COVID-19. Ele exigiu a divulgação do nome dos técnicos da Anvisa que aprovaram a distribuição da vacina ao público de 5 a 11 anos, os transformando em alvos da violência de seus apoiadores de extrema-direita, e declarou que sua filha de 11 anos não será vacinada.

Com o objetivo de dar sustentação a essa campanha fraudulenta de extrema-direita, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, convocou uma audiência pública para alegadamente “promover um debate com especialistas na área de saúde” sobre a vacinação de crianças. A audiência, realizada na terça-feira, serviu para dar projeção nacional e conferir autoridade a promotores de teorias da conspiração, curandeirices e ataques a verdades científicas.

Entre os oradores, posto em pé de igualdade com cientistas sérios, estava médico charlatão Roberto Zeballos, acusado de integrar o criminoso “ministério paralelo” que aconselhou Bolsonaro na disseminação do anticientífico “tratamento precoce” da COVID-19. Na audiência de terça-feira, Zeballos fez uma defesa repulsiva da contaminação deliberada de crianças pela COVID-19 e caracterizou a variante Ômicron como uma benção dos céus. Ele declarou: “Nós estamos com um surto de Ômicron que se mostrou uma cepa que parece que veio de Deus, porque já tem estudo mostrando que ela gera imunidade contra inclusive a cepa Delta”. Essa figura devia estar na cadeia por crimes contra a saúde pública, e não em rede nacional.

Os partidos burgueses da dita “oposição”, além de não contestarem a campanha pela “imunidade de rebanho” abertamente promovida por Bolsonaro, estão mantendo nos estados em que governam todas as condições para a livre disseminação da variante Ômicron pela população.

Em outra coletiva de imprensa na quarta-feira, o governador de São Paulo, João Doria do PSDB, e seus conselheiros da saúde defenderam que, apesar do aumento explosivo de internações hospitalares, “não há necessidade de novas medidas restritivas”. O secretário da saúde estadual, Jean Gorinchteyn, culpou pelo aumento de casos “as pessoas”, que “retiraram as máscaras de forma muito abrupta, especialmente nos ambientes de confraternização, nos ambientes sociais, favorecendo, desta forma, a transmissão”.

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes do PSD, cancelou os blocos de carnaval de rua, mas manteve o megaevento do desfile das escolas de samba na Sapucaí, alegando ser mais fácil controlar a entrada das pessoas. Ao mesmo tempo, a Prefeitura do Rio de Janeiro, assim como a de São Paulo, estão exigindo a redução do tempo de isolamento de pessoas com COVID-19 para cinco dias, seguindo o modelo criminoso do CDC dos Estados Unidos.

Na Bahia, que nas últimas semanas sofreu com alagamentos devastadores que desabrigaram dezenas de milhares de pessoas, as deixando em situação extremamente vulnerável à contaminação pelo vírus, o governo de Rui Costa, do PT, decidiu nesta semana manter a autorização à realização de eventos com até 5.000 pessoas.

Em nível nacional, o PT, assim como seu satélite pseudoesquerdista, o PSOL, permanecem em silêncio sobre o novo ascenso da pandemia. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, limitou-se a tuitar: “Sei que é difícil mas vamos nos cuidar, usar máscara, evitar aglomerações e tomar as vacinas”.

Repetindo a mesma linguagem, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) declarou em resposta ao surto global de contaminações: “os cuidados continuam valendo!”. Mas como a classe trabalhadora pode “se cuidar” de um vírus que se transmite pelo ar quando é forçada a permanecer aglomerada em locais de trabalho fechados, enquanto suas crianças ficam em salas de aulas lotadas, muitas vezes sem janelas?

Surtos de COVID-19 foram reportados esta semana em grandes emissoras de televisão, com ao menos 144 trabalhadores infectados na Rede Globo e mais de 80 na Rede Record. As contaminações nas fábricas, frigoríficos, plataformas de petróleo e outros locais de trabalho onde o vírus se dissemina com extrema velocidade não estão sendo divulgadas, mas estão certamente ocorrendo em massa. Esse curso catastrófico precisa ser parado imediatamente!

Os recursos técnicos e científicos para acabar com a pandemia mortal de COVID-19 existem. A questão a ser resolvida é política. A classe trabalhadora precisa se mobilizar independentemente dos partidos políticos burgueses e dos sindicatos corporativistas que apoiam as condições impostas pelos capitalistas baseadas na prioridade dos lucros privados à proteção da vida.

Organize-se com seus companheiros de trabalho, forme comitês de base e construa da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base! Contribua com a Investigação Mundial dos Trabalhadores à Pandemia de COVID-19! Para saber mais, entre em contato agora mesmo com o Grupo Socialista pela Igualdade do Brasil.

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